CONVIDADO

A crise sanitária em França continua a agudizar-se e os hospitais da região de Paris podem entrar em colapso nas próximas 48 horas. A agência de saúde da região da capital francesa alerta que restam cerca de 200 camas nos cuidados intensivos, sendo que 1300 já estão ocupadas e em média estão a chegar por dia 100 novos doentes em estado grave. O mesmo organismo de saúde regional dá conta ainda de que, pelos menos cerca de 250 dos 700 lares de Paris, também têm já idosos infetados. "A vaga chegou, os números são vertiginosos", sublinhou o secretário-geral da agência de saúde regional, Aurélien Rousseau. João Martins, médico anestesista num hospital de Paris, foi o nosso Convidado desta sexta-feira e descreve a situação dramática que se vive, ao garantir estarem a ser fechados blocos operatórios na tentativa de reforçar as camas para doentes a necessitar de cuidados intensivos. Nos próximos dias podem mesmo vir já a faltar ventiladores, admite. Perante um cenário de profissionais de saúde "afectados psicologicamente" e a braços com uma situação que não sabem "quando vai parar", João Martins pede que o reconhecimento pelo serviço de saúde não se fique pelos aplausos, com que os franceses diariamente o têm homenageado. É necessário "reconstruir o nosso sistema de saúde que está muito degradado", alerta. Ouça aqui o Convidado desta sexta-feira.  

Há mais de duas semanas em confinamento absoluto, Itália está em guerra contra o novo coronavírus que já provocou a morte a mais 7500 pessoas. Com um sistema de saúde que entrou em colapso, mais de 4 mil e 800 profissionais de saúde infectados, os médicos são agora obrigados a escolher qual o paciente que vai viver. Em entrevista à RFI, Nuno Escudeiro, realizador português, que vive a cerca de 200 quilómetros de Milão, relata-nos o dia-a-dia num país que está a viver uma verdadeira descida aos infernos.

No Jibuti, região estratégica do Corno de África, encontram-se oito portugueses e um francês retidos no país, a trabalhar na manutenção de helicópteros da força área francesa. Esta terça-feira, o Jibuti anunciou quatro casos de Covid-19 no país. O Presidente Ismaël Omar Guelleh encerrou a 18 de Março o aeroporto. Entretanto foi decretada uma semana de folgas para os funcionários, excluindo os profissionais de saúde, polícia e militares. Os bares e restaurantes fecharam portas e há patrulhamento nas ruas. O técnico de qualidade da OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal - Joāo Nogueira quer regressar a Portugal, mas nāo sabe quando, como explica "os franceses têm prioridade nos voos militares e portugueses estão no fim da fila".

Em Moçambique as autoridades acabam de confirmar mais dois casos de covid-19 no país, elevando para três os números de infectados até ao momento. O aumento dos casos no continente levou o director-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, a afirmar que África se deve preparar para o pior, numa alusão ao facto do continente africano se puder tornar no próximo epicentro da pandemia. Em entrevista à RFI, Napoleão Henriques Viola médico e secretário-geral da Associação Médica de Moçambique, reconhece a fragilidade do sistema de saúde e afirma que Moçambique não está preparado para lidar com uma crise sanitária como a do novo coronavírus.

Duas cabo-verdianas morreram em França devido ao novo coronavírus: Justina Ramos de 57 anos e Isabel Nascimento Cabral de 86 anos. São as duas primeiras vítimas na comunidade cabo-verdiana. Em Cabo Verde, no arquipélago, há três casos confirmados na Ilha da Boa Vista que foi confinada. Em entrevista à RFI, Hércules Cruz, Embaixador de Cabo Verde em França, falou das duas mulheres que faleceram, elas que eram conhecidas dos serviços da Embaixada. O Embaixador cabo-verdiano admitiu também que as decisões do Governo cabo-verdiano foram corajosas sobretudo cortar as rotas com a Itália, num país como Cabo Verde onde o turismo é uma fonte importante de rendimentos. Hércules Cruz, Embaixador de Cabo Verde em França, afirmou que há a possibilidade de haver cidadãos cabo-verdianos a regressar ao país com um voo do Governo francês que vai recuperar cidadãos gauleses retidos em território cabo-verdiano.