Esta semana voltamos a subir às serras do centro e norte de Portugal, motivados pela descoberta de uma nova planta: a silene-de-mariz. Exclusiva da Península Ibérica, mas com escassa presença em Espanha, esta espécie da família Caryophyllaceae, a mesma dos cravos, é considerada um quase-endemismo lusitânico e resiste em zonas rochosas, de difícil acesso.
Com preferência por locais algo sombrios, esta planta, de nome científico Silene marizii Samp., encontra-se junto a afloramentos graníticos, pode atingir 60 cm de altura, é muito glandulosa e caracteriza-se também por ter um aroma pouco convidativo. Já as flores parecem delicadas e tanto podem ser rosadas como brancas, distinguindo-se ainda pelo corte bífido. O período de floração cobre os meses de Março até Julho.
Esta espécie foi dada a conhecer em 1887 e no Herbário da Universidade de Coimbra encontramos um dos exemplares que serviu de base à descrição desta planta. Neste episódio, contamos como o nome então atribuído teve de ser alterado e a mudança prestou homenagem a um dos grandes botânicos portugueses: Joaquim de Mariz.
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Episódio 9: Espiga-de-água
Se no último episódio quase que acabávamos dentro de água, neste temos mesmo de ir ao fundo. Vamos conhecer a espiga-de-água, de nome científico Potamogeton polygonifolius Pourr., uma planta aquática (um hidrófito, como dizem os botânicos), com folhas flutuantes que pintam rios e lagoas, ao longo de todo o território, ainda que de forma pontual. A Lapa da Meruje, por onde temos andado nestas excursões, é um bom cenário para ver esta espécie no seu habitat natural. O quadro é tão impressionante que facilita possíveis explicações para o nome comum atribuído a esta planta.
Dada a águas doces e pouco profundas, entre Março e a Agosto, esta espécie revela uma característica muito própria: as inflorescências, que fazem lembrar uma espiga, despontam e ficam à tona. Nativa a Europa e do norte de África, a espiga-de-água é da família Potamogetonaceae, que abarca mais de uma centena de espécies aquáticas ou “vizinhas do rio”, se nos guiarmos pelo grego e pelo termo científico Potamogeton dado a este género de plantas.
A introdução de espécies exóticas representa, no entanto, uma forte ameaça à espiga-de-água, tal como a outras plantas aquáticas e por isso esta semana falamos também de invasoras e das medidas ao nosso alcance para manter os ecossistemas.
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Episódio 8: Meruje
Diz-nos o ditado que quem não arrisca, não petisca e no episódio desta semana deixamos uma sugestão para quem gosta de testar máximas populares: ir até Fornelo do Monte, no concelho de Vouzela, procurar por margens de rios ou ribeiras e, sem escorregar, provar as frescas merujes. Da família Portulacaceae, a mesma das beldroegas, esta pequena erva, de nome científico Montia fontana L., faz grande diferença tanto no prato como na paisagem, onde chega a formar distintos tapetes verdes à beira de água, assinalados durante a Primavera por discretas flores brancas.
As merujes, também conhecidas por morugens-de-água ou ainda marujinhas, gozam de forte presença no centro e norte de Portugal, ocorrem em nascentes e zonas encharcadas. Março e Abril são os meses mais aconselhados para as provar, antes da floração. A história indica, no entanto, outras alturas do ano como épocas igualmente certeiras para observar esta espécie. Em 1892, Maio foi o mês escolhido pelo naturalista Adolpho Moller para enriquecer a colecção do Herbário da Universidade de Coimbra com um exemplar desta planta que, nos últimos anos, tem vindo a ser promovida como uma alternativa à alface.
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Episódio 7: Arméria-das-beiras
Esta semana, por terra ou estrada, são vários e já muito percorridos os percursos possíveis para cumprir o mesmo destino: avistar a arméria-das-beiras. No caminho até à Torre da Serra da Estrela, pelo Caramulo ou a Lousã, é fácil encontrar junto aos caminhos esta espécie exclusiva do oeste da Península Ibérica – o difícil é distingui-la de outras plantas do mesmo género, mesmo para especialistas.
Em Portugal, há mais de 20 espécies de armérias, que se caracterizam todas pelas inflorescências, em forma de pequenos pompons, diferindo nos habitats e zonas do país em que ocorrem, e em detalhes por vezes tão pequenos que têm de ser medidos a régua e lupa. A arméria-das-beiras, de nome científico Armeria beirana Franco subsp. beirana ocorre em zonas de montanha, tem maior presença na região das Beiras, pode ter mais de meio metro de altura e apresenta flores rosadas. É da família Plumbaginaceae, a mesma do limónio.
Neste episódio, além de sondarmos as técnicas dos botânicos para identificar espécies em tudo parecidas, falamos também de plantas já extintas e das medidas de conservação propostas para as que vão perdendo terreno.
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Episódio 6: Pútegas
O trilho desta semana leva-nos a terras mais agrestes e secas, pontuadas pelas vistosas flores dos arbustos que, na Primavera, enchem as serras de um aroma único. É no colo das estevas, roselhas e sargaços que podemos encontrar uma das plantas parasitas que mais alimenta as memórias das gentes do campo: as doces e comestíveis pútegas. Neste episódio vamos às raízes e o desafio é para levar à letra: esta espécie vive boa parte do tempo debaixo do solo.
Sem clorofila, as pútegas alojam-se nas raízes das plantas hospedeiras para garantir todo o sustento que precisam e são vários os arbustos da família Cistaceae, como as estevas ou os sargaços, capazes de cumprir este propósito. O nome científico Cytinus hypocistis (L.) L., com origem no grego, assim atesta: é uma espécie que existe “debaixo dos cistos”.
A época de floração, entre Maio e Junho, é por isso uma oportunidade a não perder para ver esta planta brotar da terra e revelar uma espantosa combinação de cores garridas num jogo curioso entre o amarelo e o avermelhado. As flores são, no entanto, bem rasteiras e para dar com elas é preciso andar de olhos postos no chão – se o prazer da descoberta não for suficiente, a promessa de néctar pode valer o esforço.
Para curiosos e outros exploradores dos lugares de conhecimento, este programa oferece livre acesso a espaços reservados e visitas guiadas por material classificado. Nesta primeira série de dez episódios, temos encontro marcado com o investigador Filipe Covelo, no Herbário da Universidade de Coimbra. Uma vez por semana e com todo o cuidado, abrimos os armários da colecção portuguesa e usamos as expedições pela Serra do Caramulo como bússola. Das colheitas de outros tempos à informação ecológica mais recente, olhamos para cada folha de papel como se estivéssemos numa saída de campo.