Cabo Verde no Mundial 2026: Um sorteio entre gigantes e a vontade de competir
Cabo Verde prepara-se para uma estreia histórica no Mundial de 2026 sob a liderança de Bubista, que pede coragem, união e ambição perante Espanha, Uruguai e Arábia Saudita. O seleccionador rejeita complexos, reforça a identidade da equipa e faz do sorteio um teste para provar que os Tubarões Azuis chegam ao torneio “para competir e não para passar férias”. Cabo Verde vive semanas de expectativa inédita. Pela primeira vez, a selecção insular participa num Campeonato do Mundo, integrada no exigente grupo H, ao lado de dois campeões mundiais: Espanha e Uruguai, e da Arábia Saudita, responsável por uma das surpresas da última edição ao derrotar a Argentina. A dimensão do desafio não intimida Pedro Leitão Brito, Bubista, que reconhece o peso dos adversários, mas recusa qualquer fatalismo. “Tudo vai depender da nossa coragem”, afirma. “Temos que encarar como até agora: com humildade, com respeito, mas sem receio.” A estreia, carregada de simbolismo, vai ser também um manifesto de identidade. Bubista quer uma equipa destemida desde o primeiro minuto: “Temos de ter valentia para jogar sem medo. Conhecemos o poder da Espanha, mas dentro de campo é sempre 11 contra 11.” Organização, união e ambição vão ser, garante, os pilares da abordagem cabo-verdiana: “Vamos lutar pelos pontos nos três jogos, sem excepção.” Quanto a eventuais surpresas tácticas, o seleccionador é prudente. Cabo Verde tem já uma estrutura consolidada, sublinha: “Temos uma matriz bem definida.” Mas diante de adversários tão distintos, a preparação vai exigir estudo meticuloso. “Temos meses para analisar profundamente cada equipa e procurar deixar a nossa marca.” A disparidade de experiência não o inibe: “O nosso caminho faz-se com confiança, com a nossa união e com a força do nosso povo espalhado pelo mundo.” Se muitos viram no sorteio um fardo, Bubista encontrou nele uma oportunidade: “Para mim, correu bastante bem. Numa estreia, jogar contra equipas de alto calibre é a melhor forma de sabermos quem somos e de mostrar que estamos aqui para competir.” A frase condensa o espírito de um grupo que prefere transformar a adversidade em combustível competitivo. O seleccionador cabo-verdiano comentou ainda o percurso das restantes selecções lusófonas. “Brasil e Portugal são favoritos”, reconhece, embora sublinhe que “num Mundial é preciso ter atenção a todas as equipas”, num cenário marcado por crescente equilíbrio e maturidade táctica. A logística do torneio, distribuído pelos Estados Unidos, México e Canadá, acrescenta complexidade. Cabo Verde vai jogar em Atlanta, Miami e Houston, cidades separadas entre si. “Será muito difícil por causa dos voos e da constante mudança de ambiente”, admite. Mas confia na capacidade de organização: “Hoje em dia as equipas estão preparadas para minimizar o impacto dessas deslocações.” A diáspora surge como trunfo emocional determinante: “Temos mais gente nos Estados Unidos do que em Cabo Verde”, recorda Bubista, convicto de que a selecção estará sempre bem acompanhada. “Tenho a certeza de que, em todos os jogos, haverá uma grande onda de apoio cabo-verdiano.” E sublinha o alcance histórico do momento: “A nossa bandeira estará à vista do mundo inteiro; queremos fazer coisas positivas para que o nosso povo sinta orgulho.” Por fim, Bubista reflecte sobre o novo formato do Mundial, agora com 48 selecções. Para o técnico, trata-se de um passo na direcção certa: “É uma oportunidade para selecções pequenas poderem discutir a qualificação dentro do campo.” A presença de Cabo Verde é, para si, prova disso mesmo: “Mostra que selecções que não são ricas também têm condições para lutar.” E conclui com a ambição que quer imprimir ao grupo: "Cabo Verde entrou no mapa mundial e não veio para ser figurante".