Powered by RND
PodcastsRadar econômico
Ouça Radar econômico na aplicação
Ouça Radar econômico na aplicação
(1 200)(249 324)
Guardar rádio
Despertar
Sleeptimer

Radar econômico

Podcast Radar econômico
Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e do...

Episódios Disponíveis

5 de 24
  • Sombra do declínio econômico alemão paira sobre vizinhos europeus
    A locomotiva europeia está em pane. Louvada há mais de meio século por suas indústrias, suas exportações e seu mercado de trabalho, a Alemanha amarga há dois anos uma recessão cuja luz no fim do túnel ainda não apareceu. A situação econômica delicada é um dos principais temas da campanha eleitoral no país, para as eleições legislativas de domingo (23). A pandemia de coronavírus e as consequências da guerra na Ucrânia atingiram em cheio a Alemanha, altamente dependente da performance industrial e das exportações. A disparada dos preços da energia e a concorrência chinesa colocaram o modelo econômico alemão em xeque e o país entrou no caminho da desindustrialização, com recuo de 3% da produção e 10 mil empregos industriais perdidos por mês."Podemos dizer que a Alemanha ficou para trás em relação aos grandes países da zona do euro. Basta olhar para a evolução do crescimento alemão depois da crise do Covid. O nível de produção está muito pouco superior aos de 2019, enquanto que nos outros países desenvolvidos, a começar pelos Estados Unidos, este índice progrediu bastante”, resume Céline Antonin, economista sênior do Observatório Francês da Conjuntura Econômica (OFCE), de Paris, e especialista na zona do euro. "A Alemanha está claramente estagnada há cinco anos e hoje é difícil ver como ela vai enxergar o fim do túnel”, disse ela à RFI.A concorrência americana depois da entrada em vigor do Inflation Reduction Act (IRA) nos Estados Unidos, sem que a Europa tenha reagido à altura para apoiar a sua indústria, acentuou esse quadro. Do outro lado, o avanço espetacular da China sobre o precioso setor automotivo, por meio dos carros elétricos, pegou Berlim de surpresa.As companhias alemãs que deslocaram em peso sua produção para o país asiático privilegiaram joint ventures, com parcerias incluindo transferência de tecnologia – uma escolha que hoje se volta contra o próprio país."Os alemães tiveram as suas tecnologias copiadas em alguns setores e, uma vez que a China se apropriou dessas tecnologias alemãs, passou a reproduzi-la sozinha. No setor automotivo, ela ultrapassou a Alemanha a partir de 2023, e a Alemanha ainda é dependente de vários produtos chineses, como os componentes eletrônicos, diodos, circuitos integrados, o que amplia a sua vulnerabilidade”, nota Antonin.Efeito Trump torna futuro mais nebulosoAgora, o retorno de Donald Trump à Casa Branca, com seu America first, e a distribuição de tarifas de importação aos parceiros comerciais dos Estados Unidos, a situação fica ainda mais dramática. O Instituto de Economia Alemã de Colônia avalia que o "efeito Trump" poderá causar € 180 bilhões de prejuízos em quatro anos para o país."Tem uma parte considerável dos empregos alemães que dependem da indústria exportadora, e é por isso que a Alemanha promove tanto o livre comércio. Passarmos a ter um mundo mais fechado, com tarifas de importação, não é nada bom para ela”, observa a economista.A vulnerabilidade energética alemã fez com que o país sofresse mais do que os vizinhos com os impactos da guerra na Ucrânia e os cortes de fornecimento de gás pela Rússia. Resultado: os preços de toda a cadeia produtiva aumentaram e não baixaram mais.Em janeiro, em uma cena rara, empresários ocuparam o emblemático Portão de Brandemburgo, em Berlim, para alertar os candidatos a chanceler sobre o risco de “declínio" do país e pedir “reformas econômicas urgentes”. A queda dos preços da energia é uma das principais reivindicações."Os empreendedores estão na rua porque a situação está mais grave do que nunca. Os empregos e a prosperidade do nosso país estão em perigo”, disse um manifestante. "A Alemanha tem um enorme problema de competitividade. Há anos, as nossas advertências são ignoradas pelos políticos."Investimentos públicos paralisados Com discurso liberal, os conservadores do CDU são os favoritos – mesmo que, no horizonte, a vitória possa significar uma aliança com a extrema direita, em nome da governabilidade. O candidato Friedrich Merz, líder do partido, promete cortar € 90 bilhões ao ano de impostos sobre empresas e pessoas físicas para relançar a economia.O SPD, do atual premiê Olaf Scholz, segue no sentido contrário: não descarta novas taxas para financiar a retomada dos investimentos, num país que, obcecado pelo rigor fiscal, congelou os gastos públicos ao ponto de ver suas infraestruturas envelhecerem, desde a malha ferroviária até as tecnologias, incluindo a rede 5G.Leia tambémAlemanha: Imigração foi um dos temas em destaque no último debate dos candidatos antes das eleiçõesNeste contexto, é toda a Europa que está de olho no futuro da Alemanha: o país é o principal parceiro comercial da metade dos europeus, em especial os do leste. A atividade econômica de todo o bloco acaba freada pela recessão alemã."O fato de o maior país da zona do euro, a sua locomotiva, estar enfraquecida e ter um crescimento baixo ou zero não é bom porque envia a mensagem de um enfraquecimento generalizado da União Europeia”, salienta Céline Antonin. “Dá a impressão de que a Europa está um pouco estagnada, até porque os países em volta da Alemanha também não estão tendo um crescimento fulminante."
    --------  
  • Na corrida mundial pela IA, UE aposta em proteção de dados para se diferenciar de excessos de concorrentes
    A expansão da inteligência artificial para os mais diversos campos torna a questão da regulamentação do seu uso cada vez mais urgente, em meio a uma concorrência mundial crescente. Espremida entre o controle estatal da China e a flexibilidade dos Estados Unidos, a Europa busca se diferenciar com uma IA protetora dos usuários – mesmo que este caminho a deixe para trás nesta corrida. A União Europeia adotou em 2024 a legislação mais completa do mundo sobre a tecnologia. O “respeito da vida dos cidadãos” está no foco do texto do IA Act, que impõe transparência sobre o seu uso, exigências de normas para áreas consideradas sensíveis, como educação e segurança, e até proibições de uso da IA quando for contrário aos valores europeus, a exemplo do sistema de notação de pessoas que existe na China.Enquanto isso, nos Estados Unidos, um dos primeiros atos da desregulamentação generalizada prometida pelo presidente Donald Trump foi reverter o frágil mecanismo que havia sido instaurado pelo ex-presidente Joe Biden em matéria de inteligência artificial.Este foi um dos principais temas debatidos na Cúpula para a Ação sobre a Inteligência Artificial, realizada em Paris nesta segunda e terça-feira. “Nós apoiamos a regulação: como se tem dito, a IA é importante demais para não ser regulada, mas deve ser regulada de forma inteligente”, disse a diretora global de Políticas de Concorrência do Google, Astri Van Dyke, em um painel do Business Day, evento paralelo da cúpula. “Temos que ter uma visão dos riscos e analisar setor por setor. Os riscos da IA na saúde serão diferentes do da indústria, por exemplo”, complementou.  Já Adam Cohen, diretor de Impacto Econômico da OpenAi, considera que, neste momento de desenvolvimento da tecnologia, regras mais flexíveis favorecem o surgimento de novos players. “As regras e regimes de compliance podem criar obstáculos. Só para dar uma ideia de comparação, na OpenAI somos 2 mil colaboradores, o que é menos do que só o time jurídico do Google”, disse o executivo da criadora do ChatGPT. “Não temos o mesmo nível de recursos. O impacto que as obrigações podem ter é muito importante”, comentou.Regulação poder preservar a concorrência Solange Viegas dos Reis, diretora jurídica da OVHCloud, líder europeia em armazenamento de dados, afirma que um dos principais papeis da regulação é justamente proteger a concorrência justa. Representando um setor em que 70% do mercado é dominado por três big techs americanas (Amazon, Microsoft e Google), ela avalia que o mercado sozinho não garantirá essas salvaguardas.“A regulação não é automaticamente sinônimo de freio à competição. Se ela for adaptada, ela pode ajudar à competição”, observa. “Hoje, o que se passa é que tem uma diferença muito grande de capacidade de desenvolvimento entre empresas americanas e europeias – as grandes empresas da tech são americanas e as europeias são muito menores. Mas podemos ver que a regulação pode ajudar todo o tecido industrial e econômico a se desenvolver. E temos um diferencial importante, na comparação com os competidores, que é a proteção dos dados e a soberania sobre eles”, destaca.Solange compara as empresas de IA com as outras indústrias, dentre as quais muitas não se importam de recorrer ao trabalho infantil ou desrespeitar normas ambientais.“Não é porque, em certos países, a IA é feita num faroeste que devemos aceitá-la. Sabemos que o mercado europeu é importante para várias empresas no mundo inteiro, incluindo as americanas”, salientou. “Como o nosso mercado é importante, nós podemos impor regras que permitam acessá-lo. Essas regras têm que permitir que a atividade econômica flua com boas condições, mas também podem impedir que pessoas que venham do faroeste apliquem os métodos delas na Europa.”IA tem interesse em manter indústrias criativas O presidente da Autoridade da Concorrência francesa, Benoît Coeuré, disse que o risco é a IA se tornar uma gigantesca indústria da exploração de dados, na qual as grandes companhias captarão, legal ou legalmente, informais sigilosas ou protegidas por direitos autorais.“Nós temos que tomar cuidado para nos prevenir disso, e balancear os interesses da IA contra os de outros quesitos, inclusive sociais, mas também de propriedade intelectual, da indústria da mídia, da proteção privacidade e tantos outros. Essa discussão só começou e acredito que encontraremos um caminho a seguir”, frisou. “Estou confiante porque é do maior interesse das companhias de IA proteger a produção dos dados, seja de conhecimento, de música, de notícias, de filmes. O seu maior interesse de longo prazo vai ser proteger esse ecossistema criativo, do qual ela depende”, explicou.  O presidente francês, Emmanuel Macron, defende que é essencial manter “a confiança” das pessoas na inteligência artificial e pregou uma “regulação mundial” desta tecnologia, embora tenha reconhecido que os excessos podem abalar o seu desenvolvimento.Governança inclusiva da IAO Brasil segue por essa linha: ao lado de Paris, Brasília é uma das 29 signatárias da Parceria Mundial pela Inteligência Artificial, promovida pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) para pregar boas práticas na utilização da tecnologia. Em uma mesa redonda da cúpula, o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira defendeu uma governança inclusiva da IA.“As Nações Unidas não devem estar apenas no centro das discussões sobre IA, mas no centro de qualquer iniciativa de tomada de decisão. Defendemos um diálogo aberto, equitativo e inclusivo, sempre reconhecendo as necessidades e prioridades de cada país, e acreditamos que a implementação do Pacto Digital Global deve estar no centro do nosso ‘road map’”, afirmou o chanceler.Vieira lembrou que a governança da inteligência artificial foi uma das prioridades da presidência brasileira do G20, no ano passado, e também será um dos principais objetivos da presidência do Brasil do Brics em 2025. “Os países do Sul Global precisarão ser ouvidos se quisermos alcançar soluções sustentáveis ​​para problemas duradouros e evitar uma nova exclusão digital entre países de diferentes níveis de desenvolvimento”, evocou.No encerramento da cúpula, nesta terça (11), nem os Estados Unidos, nem o Reino Unido assinaram a proposta de comunicado final do evento, que defendeu uma “IA inclusiva e sustentável” do ponto de vista energético.
    --------  
  • Acordo comercial entre Brasil e EUA pode avançar em meio a onda tarifária de Trump
    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começa a cumprir as promessas de aumentar os impostos de importação aos principais parceiros comerciais do país – mas, ao mesmo tempo, sinalizou que poderia negociar com a China um acordo comercial. Este também poderia ser um caminho para a Brasil.  ​​​​​​Em 2020, no primeiro mandato de Trump, Estados Unidos e Brasil assinaram um Acordo de Comércio e Cooperação Econômica (Atec, na sigla em inglês), para facilitar os trâmites burocráticos das transações. Desde então, um comitê busca aprofundar a redução de barreiras e ampliar a integração dos mercados, mas avanços significativos para a operacionalização do tratado não foram alcançados.A próxima reunião está marcada para o segundo semestre. “Vai ser para discutir temas relacionados justamente a isso, simplificação alfandegária, que a gente vai precisar muito e os países vão ter que se adequar”, nota Arthur Pimentel, presidente do Conselho de Administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).“Nós recebemos em outubro a OMA, Organização Mundial das Aduanas. Vejo tudo apontando para o Brasil e acho que está se desenhando um cenário muito favorável para a gente. Tem uma boa vontade do governo americano para dar continuidade a essas tratativas”, aposta.Acordo não inclui tarifasComo membro do Mercosul, Brasília não poderia assinar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos sem o consentimento dos demais parceiros. O Apec não abrange tarifas, mas uma série acordos bilaterais podem ser visados, como de facilitação de comércio, de investimentos e liberalização de serviços – inclusive em setores estratégicos como tecnologia e telecomunicações, salienta Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior (2007-2011) e especialista em Direito Internacional do Comércio.“O que eu tenho ouvido em Brasília hoje é que o Brasil não quer ser lembrado por Trump, porque a experiência com México e Canadá vai causar muito problema para a economia desses dois países. E Trump tem negociado sempre de uma posição de muita força, de primeiro adotar medidas e depois passar para a negociação”, constata. “Mas já existem várias iniciativas que poderiam avançar, como a cooperação na área de defesa, existe um diálogo comercial entre o Mdic [Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio] e o Departamento de Comércio americano, para tirar barreiras não tarifárias. Todas essas iniciativas poderiam ter resultados mais abrangentes – se houver interesse do lado americano.”Enquanto isso, Brasília se prepara para, cedo ou tarde, ser alvo dos disparos tarifários do presidente americano. Trump citou o Brasil como “um país que cobra muito” e, “se eles querem cobrar, vamos cobrar a mesma coisa”.“Apesar da reclamação de Trump, a grande verdade é que o Brasil não tem tarifas particularmente altas contra os Estados Unidos. Ele importa muitos derivados de petróleo, equipamentos, à exceção do etanol, que os Estados Unidos reclamam que tem uma tarifa alta”, explica Barral.A exposição do Brasil a eventuais retaliações também é bem menor do que a mexicana ou a canadense, que têm nos Estados Unidos o destino de até 80% de suas exportações. No caso brasileiro, esse número gira em torno de 15% e a balança comercial foi deficitária de 2009 a 2023 – ou seja, o Brasil importa mais do que exporta para os americanos.Ainda assim, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro do Brasil, atrás da China. As ameaças de Trump deverão levar o país a diversificar ainda mais o seu comércio internacional. “O Brasil terá a obrigação de buscar mercados alternativos, buscar exportar e expandir para outros mercados, fazer um esforço de financiamento e garantias para mercados mais arriscados, como da América Latina e África. E lembrando que o efeito não será o mesmo para todas as cadeias produtivas”, sublinha Barral.Leia tambémOs setores na França que não veem a hora de o acordo comercial com o Mercosul sairOfensiva contra o BricsO Brasil também está exposto como membro-fundador do Brics, outro foco da retórica protecionista de Trump. O republicano tem repetido sua aversão aos planos do bloco de emergentes de intensificar as transações com suas próprias moedas e, em especial, ao projeto de criação de uma moeda única do Brics. Hoje, entretanto, esse plano não tem a menor condição de se concretizar a médio prazo.O presidente chegou a ameaçar os países do Brics com “tarifas de 100%”, se o grupo um dia substituir o dólar como moeda oficial. “Uma coisa é falar, a outra é conseguir fazer. Acho que muita água ainda pode correr nesse caudaloso rio das trocas comerciais internacionais”, comenta Arthur Pimentel, da AEB.Ele vê nessa ofensiva verbal uma amostra do quanto a mobilização dos emergentes contra a hegemonia americana incomoda Washington.“O governo americano entende muito bem quando, onde e como negociar suas pretensões para a proteção do mercado interno e garantir a sua hegemonia. Ele sabe muito bem que a China mantém a posição de maior exportador do mundo. É um fato, não tem jeito”, diz Pimentel. “Eles sabem muito bem que a Índia teve um crescimento significativo nas suas vendas externas: ultrapassou os US$ 750 bilhões de braçada. E conhece muito bem a potencialidade das exportações agrícolas do Brasil, que é outro fato, e tem ciência da força exportadora de mais de U$ 120 bilhões de minerais da África do Sul”, afirma.
    --------  
  • Desinformação sobre o PIX evidencia desafios à informalidade no mercado de trabalho brasileiro
    A onda de temor provocada por notícias falsas de que as transações por PIX passariam a ser tributadas no Brasil chamou a atenção para o problema crônico da informalidade do mercado de trabalho no país. Quase metade da população ativa encontra-se em situação irregular ou semirregularizada – um cenário que não apenas expõe esses trabalhadores à precariedade, como contribui para aumentar o rombo na Previdência Social. No começo de janeiro, o governo anunciou a entrada em vigor de uma normativa da Receita Federal para incluir na fiscalização as transações realizadas por PIX acima de R$ 5.000, por pessoas físicas, e R$ 15.000 para empresas.A medida visava sobretudo as somas de atividades milionárias dos setores de tecnologia. Mas o anúncio foi alvo de uma intensa campanha de desinformação de setores da oposição, que deixou apreensivos milhões de trabalhadores informais ou registrados como MEI (Microempreendedor Individual), e temeram ser alvo de impostos. O governo ressaltou que não mirava essas pessoas e nem aplicar novas taxas, mas o estrago estava feito.Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, indicam que a informalidade disparou no Brasil na última década, entre o último trimestre de 2015 até o trimestre encerrado em novembro de 2024. O professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Hélio Zylberstajn ressalta alguns números: o de empregados sem registro cresceu 41% no setor privado e 51% no público, e o de autônomos registrados no MEI, portanto sem carteira assinada, subiu 28% no período."Você percebe que toda a parte informal expandiu em dois dígitos, a 20%, 30%. Um número muito interessante são os trabalhadores por conta própria, os self employed, que podem ter uma situação que os regulariza de alguma forma, o MEI. Essa categoria cresceu 58%”, afirma Zylberstajn. "A informalidade cresceu e essa semiformalidade explodiu. O retrato do mercado de trabalho é dramático”, constata ele, que também coordena o projeto Salariômetro da FIP (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).Informalidade x pleno empregoO paradoxo é que o país desfruta há alguns meses do pleno emprego. No trimestre finalizado em novembro, o desemprego caiu a 6,1%, o mais baixo em 12 anos de Pnad. Mas, em paralelo, os dados da informalidade e inadimplentes nunca foram tão altos: somados, chegam a 47% dos ativos."A informalidade não cresceu por causa do PIX”, sublinha o professor. "São outras as razões: em parte, ela é tão grande por causa do nosso sistema tributário que é tremendamente injusto. Ele cobra imposto de renda de quem ganha acima de R$ 2,8 mil, menos do que a renda média do trabalho. Por isso que assustou tanta gente”, diz.Daniel Duque, pesquisador sobre mercado de trabalho do Instituto de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-GFV), também salienta este ponto. Para ele, os pagamentos por PIX apenas substituíram o que antigamente era já feito em espécie – e é natural que a Receita queira monitorar as transações. Porém, é o sistema tributário desigual, em que os ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que os pobres, que acaba direcionando a arrecadação de impostos para o trabalho e o consumo."Essa discussão do PIX mostra que as pessoas têm muita resistência a pagar diretamente impostos, então o governo não cobra tanto imposto de renda – o percentual de arrecadação por imposto de renda no Brasil é muito abaixo dos países desenvolvidos”, explica. "Alternativamente, o governo cobra mais sobre o consumo, e assim as pessoas não percebem que estão pagando, ou então taxa diretamente sobre a folha salarial. Não é à toa que o empregado precisa ser muito qualificado para que valha a pena empregar”, nota Duque, que finaliza um doutorado em economia do trabalho na Norwegian School of Economics.Desafio de integrar informaisSete anos depois da última reforma trabalhista, que flexibilizou as relações laborais durante o governo de Michel Temer, uma pesquisa do Ibre-FGV mostrou que 70% dos autônomos gostariam de assinar um contrato com carteira de trabalho. O estudo, de agosto de 2024, também indicou que 44% deles ganham no máximo um salário mínimo."O governo tenta criar mecanismos de formalização dos ocupados por conta própria, como o MEI e o Simples, na tentativa de formalizar essas pessoas, com o entendimento de que por mais que elas paguem menos impostos do que um empregado com carteira assinada, é melhor do que não pagar nada”, aponta Duque, ressaltando que os benefícios da reforma para o aumento do emprego formal, nos últimos anos, ainda são alvo de estudos.“Eu acredito que isso gera um problema. Pode até reduzir a informalidade total, mas também pode gerar incentivos perversos: ao tornar muito vantajoso o trabalhador se tornar MEI ou Simples, você impede uma contratação formal”, frisa. Daniel Duque aponta ainda que a maior informação e qualificação dos trabalhadores também são aspectos importantes para melhorar este quadro.Hélio Zylberstajn, da USP, considera que o sistema tributário é a razão mais aparente para explicar o cenário atual, mas as suas causas são estruturais. Ele lembra que a industrialização do Brasil trouxe, de forma precipitada e desordenada, milhões de trabalhadores para as metrópoles – que jamais conseguiram absorver toda a mão de obra disponível.“Países que eram subdesenvolvidos e hoje são quase de primeiro mundo, como a Coreia do Sul, também tinham excesso de mão de obra, mas eles conseguiram fazer o seguinte – e que aliás foi o que os Estados Unidos fizeram há 200 anos: eles decidiram que precisariam, junto com a industrialização, ocupar a mão de obra excedente”, enfatiza. "Então eles distribuíram terras, no interior, para as pessoas que não queriam ir para a cidade. O Brasil não fez nada disso: no Império, o Brasil já distribuiu as terras para 'os eleitos'. O resultado é que, quando veio a industrialização, ela atraiu precocemente essa quantidade enorme de pessoas e isso criou a informalidade”, conclui.
    --------  
  • Fórum de Davos contrapõe guinada protecionista de Trump a neoliberalismo em transformação
    O Fórum Econômico Mundial acontece este ano em Davos em pleno processo de transformação da globalização e do neoliberalismo, corrente dominante no encontro das maiores fortunas globais no pequeno vilarejo suíço. Este ano, o evento ocorre na estreia do novo governo do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, com a promessa de uma virada ainda mais protecionista e nacionalista da maior economia do planeta. A 55ª edição do fórum começou, ironicamente, no dia da posse do líder republicano em Washington. Enquanto a cúpula econômica mundial em Davos discute a “colaboração na era da inteligência artificial” e à luz da crise climática, Trump exaltava o Make America Great Again e decretava o aumento das tarifas de importação no seu país e a retirada dos americanos do Acordo de Paris sobre o Clima.A última vez que ele participou do fórum foi em 2020. Neste edição, o republicano vai se pronunciar à distância nesta quinta-feira (23), por videoconferência. É o discurso mais aguardado dos cinco dias do evento.“Para os outros países, os capitais não americanos, é um momento de dúvida muito grande para ver o que acontece. Não acho que há muito o que fazer ou que discutir com qualquer consequência no fórum desse ano”, avalia Alfredo Saad Filho, professor de economia politica internacional na Queen's University Belfast, do Reino Unido."Ficou completamente esvaziado: grandes lideranças que normalmente seriam importantes no fórum foram para a posse de Trump, prestando atenção no que realmente importa nesse momento. Então não é que o fórum seja completamente irrelevante, mas ele está em compasso de espera", diz.Leia também“Agro pode ganhar, mas pressões sobre Brasil serão grandes”, diz analista sobre medidas de TrumpSaad Filho salienta que Trump carrega contradições importantes – se, por um lado, se mostra contrário à globalização ao impor barreiras ao comércio global, por outro defende a retomada da ideia de um "imperialismo americano", ao mencionar a anexação da Groenlândia, do Canadá e do Canal do Panamá.O magnata nunca escondeu o certo desprezo pelo Fórum de Davos – que, apesar de ser denunciado pela esquerda mundial como um símbolo de poder dos ultrarricos sob o mantra do livre-comércio, é considerado por Trump como uma cúpula com viés alinhado aos democratas.Extrema direita triunfou em meio a efeitos do neoliberalismoO professor observa que a volta do líder republicano ao poder reflete mais uma etapa do longo processo de transformações do neoliberalismo, iniciadas com a crise financeira global de 2008 – e em um mundo cada vez mais fragmentado."De repente, se percebe de uma maneira muito clara que o neoliberalismo gera instabilidade, gera crise, austeridade e a piora das condições de vida para grande parte da população. Isso terminou por levar ao surgimento do que eu gosto de chamar de lideranças políticas autoritárias, espetaculares, o Donald Trump sendo um exemplo disso”, explica o professor, referindo-se ao surgimento de lideranças de extrema direita de fora do sistema político tradicional.“Eles vêm com promessas de resolver as crises interligadas do neoliberalismo, de emprego, de renda, num contexto em que as forças políticas de esquerda, os social-democratas, tinham sido deslegitimadas e, em grande medida, devastadas anteriormente”, complementa Saad Filho.'Oligarquias' americanasO processo ganhou um novo impulso após a pandemia de Covid-19 e a consolidação de um núcleo em torno das indústrias de tecnologia, energia e defesa, aliadas ao setor financeiro. Os dirigentes de algumas das principais gigantes de tech americanas preferiram participar da posse de Trump do que das reuniões em Davos – foi o caso de Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon) Sundar Pichai (Google) e Tim Cook (Apple), além de Elon Musk, que integra o novo governo em Washington.“A volta de Trump marcou o que Joe Biden definiu, na semana passada, como o surgimento das oligarquias nos Estados Unidos”, relembra o pesquisador da Queen's University Belfast.Os quase 300 painéis do Fórum Econômico Mundial abordarão cinco temas principais: novas fontes de crescimento econômico, as empresas na era da inteligência artificial, como investir no capital humano, impulsionar o enfrentamento da crise climática e reconstruir a confiança global.CEOs de mais de 900 grandes empresas estão presentes, além de cerca de 60 lideranças políticas como a presidente da Comissão Europeia, Ursula Van der Leyen, o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, e o presidente argentino, Javier Milei.Focado na política nacional, o governo brasileiro não enviou autoridades do primeiro escalão. O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, representará Brasília no fórum, onde buscará investimentos em transição energética, aproveitando-se da lacuna criada por Trump nos Estados Unidos nesta área.
    --------  

Sobre Radar econômico

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.
Site de podcast
Aplicações
Social
v7.8.0 | © 2007-2025 radio.de GmbH
Generated: 2/22/2025 - 3:23:32 PM