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  • França: volta de Imposto sobre a Fortuna não causaria debandada de ricos, indica estudo
    A crise política na França, que levou à queda do governo de François Bayrou, nesta segunda-feira (8), abriu um período de incertezas na segunda maior economia da União Europeia. O novo chefe de Governo, Sébastien Lecornu, terá o desafio de enfrentar o rombo do déficit público, que chega a 5,5% do PIB, e uma dívida no patamar de € 3,3 bilhões. A volta do Imposto sobre a Fortuna, abolido pelo presidente Emmanuel Macron, está sobre a mesa como uma das alternativas para preencher os caixas do Estado. O estopim da crise foi a proposta de Orçamento do primeiro-ministro para 2026, prevendo economias de € 44 bilhões. Um dos focos da insatisfação da oposição de esquerda é que o projeto não aumentava a participação dos ricos no esforço fiscal para o país reequilibrar as contas.  O Partido Socialista defende a adoção da "taxa Zucman", de autoria do economista Gabriel Zucman, que baseou as negociações sobre a taxação dos ultra-ricos no âmbito do G20 no Brasil, em 2024.Na França, o economista propõe taxar em 2% os patrimônios superiores a € 100 milhões – medida que atingiria 180 mil contribuintes e teria o potencial de arrecadar até € 20 bilhões no país, segundo o próprio Zucman.  Já a direita teme que a alta das taxas leve a uma debandada das grandes fortunas, afetando, justamente, a arrecadação. A receita dos conservadores passa por mais austeridade, privatizações e cortes no funcionalismo. O Tribunal de Contas francês, por sua vez, defende um equilíbrio entre as duas vias: redução de gastos e otimização fiscal, com o fim de algumas taxas e o aumento de outras. Um relatório do Conselho de Análise Econômica, instituição independente de pesquisas que orienta o gabinete do primeiro-ministro francês, esclarece alguns clichês sobre o tema. Conforme o estudo, apenas dois em cada 1.000 ricos deixam a França por ano devido à alta carga tributária. Nicolas Grimprel, economista da entidade, explicou à RFI que o impacto da alta dos impostos varia conforme a origem da riqueza. “Tem diversos tipos de ‘alta renda’: a que vem majoritariamente do capital, em especial capital imobiliário ou financeiro, e tem a alta renda de outras fontes, como a renda do trabalho. A sensibilidade aos impostos nessas pessoas pode ser diferente”, disse. Fraca mobilidade dos ricos O principal alvo do Imposto sobre Fortuna seria a renda do capital – e estes ricos se movem pouco, aponta o relatório, tanto na comparação com a população em geral, quanto em relação aos ricos cuja renda é do trabalho. “As pessoas com patrimônio elevado tendem a ter mais idade, o que ajuda a explicar a fraca mobilidade delas, mas também o tipo de patrimônio em si, que pode ter um laço direto com o lugar onde elas moram. Não é tão fácil se mudar para o exterior quando você tem renda do capital na França, ou imóveis, ou empresas”, salientou Grimprel. O Conselho de Análise Econômica verificou se os choques fiscais dos últimos 15 anos puderam acelerar esse movimento. A reforma fiscal de 2012 e 2013 subiu a carga tributária dos ricos, mas a de 2017 não apenas rebaixou as taxas, como substituiu o Imposto sobre a Fortuna por um focado apenas no patrimônio imobiliário. Nível de impostos afasta ou atrai, mas em baixas quantidades A conclusão é que os ricos são, sim, sensíveis às mudanças fiscais. Entretanto, como representam um número limitado de contribuintes, o aumento do chamado exílio fiscal foi marginal. “Nós concluímos que, a longo prazo, o aumento de 1% do imposto de renda levaria a um exílio fiscal de entre 0,02 e 0,23% da população atingida por essa alta, ou seja, o 1% de franceses com alta renda, principalmente oriunda do capital. No pior dos casos, portanto, seriam 900 contribuintes, de um total de 400 mil”, detalhou. “A ordem de grandezas é bem baixa.” Depois de 2017, houve um movimento de retorno de afortunados ao país, constatou Grimprel. “Mas, mais uma vez, isso representa, em valores absolutos, algumas centenas de famílias. Continua sendo pouca gente, afinal este fluxo é naturalmente baixo, nesta população”, frisou.   Em um contexto de dívida pública alta e crescimento econômico estagnado, estimado em 0,7% em 2025, o economista Antonin Bergeaud, especialista em inovação e professor da respeitada HEC (Escola de Altos Estudos de Comércio), avalia que a França dificilmente poderá escapar de novos aumentos de impostos, se quiser evitar uma piora ainda maior da atual conjuntura.   “Quando temos uma produtividade estagnada e queremos ganhar margem no orçamento, não temos 50 soluções diferentes: precisamos ou aumentar o tempo de trabalho – o que foi tentado, mas tem um custo político muito grande –, ou diminuir a sangria, subindo os impostos. O objetivo é encontrar soluções de financiamento que sejam justas em relação ao aumento do tamanho da nossa economia”, explicou.  “Agora, chegamos um pouco ao fim do túnel e estamos limitados. Estamos vendo que não será mais possível continuar investindo como antes”, advertiu. Em julho, o Senado francês, dominado pela direita centrista, rejeitou um projeto de criação da taxa Zucman no país, apresentado pelos ecologistas. Nas últimas semanas, o imposto voltou ao debate político ao ser incluído na contraproposta de Orçamento do Partido Socialista, em meio às negociações para evitar a queda do governo do primeiro-ministro François Bayrou.    Leia tambémParlamento francês derruba 4° governo em dois anos e Macron terá que nomear novo primeiro-ministro
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  • ‘Tsunami branco’: Península Ibérica é porta de entrada de cocaína na Europa
    Após sucessivos recordes de apreensões de drogas nos últimos anos, a Península Ibérica se consolida como uma das portas de entrada de entorpecentes na Europa. A rota, que já era conhecida das autoridades pelo tráfico de cannabis do Marrocos, transformou-se em um canal para as importações de cocaína provenientes da América do Sul. Em 2023, foram apreendidas na Espanha 142 toneladas da droga, contra 59 toneladas no ano anterior. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Enquanto os cartéis mexicanos buscam mercado na América do Norte, os que atuam na Tríplice Fronteira, formada por Brasil, Paraguai e Argentina, focam na clientela dos países europeus, explica Olavo Hamilton, pós-doutor em Direito na Universidade de Brasília. "A localização geográfica, principalmente do nordeste do Brasil em relação à Europa, facilita essa nova rota, principalmente de cocaína, para a França, para a Europa Central e para o norte da Europa", diz. "Geralmente essa droga parte por via marítima ou aérea. A entrada na Europa é pela Península Ibérica, onde você tem grandes portos e há uma facilidade linguística e de comunicação entre os traficantes", completa. "Tsunami branco" "Um tsunami branco", compara o ministro do Interior francês Bruno Retailleau, preocupado com "a ameaça existencial" que este tráfico representa para a França. O "Escritório Central de Repressão ao Tráfico de Drogas" francês calcula que 200 mil pessoas atuem no tráfico de drogas no país, onde as apreensões de cocaína atingiram um recorde nos seis primeiros meses do ano: 37,5 toneladas contra 25,8 toneladas, no primeiro semestre de 2024, representando um aumento de 45%.  Olavo Hamilton explica porque o combate ao tráfico de cocaína é tão difícil. "Na década de 1980, o tráfico de cocaína era concentrado em poucos cartéis, organizações muito fáceis de identificar. Hoje, você tem uma rede maior de tráfico de drogas e esse poder é muito descentralizado", afirma. "Às vezes, em um estado do Brasil você tem até oito facções atuando todas na distribuição de drogas. É impossível combater o tráfico vindo dessas organizações pulverizadas na América Latina inteira", conclui.   Se o número de pontos de venda física de drogas caiu no território francês para 2.729, em comparação com 4.034 no fim de 2020, outras estratégias permitem escoar a mercadoria, incluindo o uso de apartamentos para aluguel de curta temporada e sistemas de cofres escondidos com chaves contendo drogas.  A queda de preços, resultado do aumento da produção, e a entrega mais fácil e abrangente por aplicativos também explicam os números recordes. "Antes, o tráfico de drogas era geralmente controlado por poucas famílias. Hoje, temos uma proliferação de locais de venda de drogas", analisa Marie Jauffret-Roustide, socióloga do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica. "Estudos disponíveis mostram que esse aumento do número de traficantes intensificou a violência associada às drogas, visto que há muito mais disputas pela manutenção do mercado", acrescenta.  Violência ligada ao tráfico de drogas cresce na França Na França, a violência ligada ao comércio ilegal de entorpecentes tem aumentado em cidades de médio porte. No ano passado, houve 367 homicídios ou tentativas de homicídios relacionados ao narcotráfico, em 173 cidades.  A criminalidade levou as autoridades do Gard, no sul do país, a implementarem medidas como toque de recolher em alguns bairros da cidade de Nîmes.  Para a pesquisadora Marie Jauffret-Roustide, combater as drogas exige enfrentar a desigualdade social. "Se combatêssemos as desigualdades sociais e de saúde, oferecendo a esses jovens a oportunidade de se integrarem à sociedade e acessarem empregos formais, é claro que eles escolheriam essas profissões em vez de entrarem para o tráfico de drogas", diz. "Há realmente muito trabalho a ser feito sobre a questão das desigualdades sociais em bairros populares", completa. PCC na Europa Entre diversas redes que operam para controlar esse comércio lucrativo, a organização mais conhecida é o PCC brasileiro, o Primeiro Comando da Capital, apontado como responsável pela onda de cocaína que invadiu a Europa nos últimos anos.  De uma tonelada de folha de coca, extrai-se aproximadamente um quilo de cocaína pura, que será vendida por US$ 35 mil na Europa, segundo investigação do jornal argentino La Nación. Leia tambémGarimpo e tráfico são foco de viagem de Macron à Guiana Francesa, onde Comando Vermelho e PCC ganham terreno A organização, que conta com mais de 100 mil membros, também estabeleceu ligações com a Ndrangheta calabresa, máfias do Leste Europeu e a máfia nigeriana Black Axe. De acordo com os cálculos do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ligado ao Ministério Público Federal no Brasil, o tráfico de drogas rende ao PCC quase R$ 4,9 bilhões por ano.   O combate ao crime organizado na Tríplice Fronteira enfrenta dificuldades como a falta de recursos e a corrupção de muitos políticos, agentes de alfândega e policiais, além da escassez de efetivo.  França intensifica a repressão Na França, uma lei aprovada em junho prevê uma série de medidas repressivas para os envolvidos com o tráfico de drogas. Para incentivar a denúncia de redes criminosas, réus processados por crimes violentos agora podem ter suas penas reduzidas em até dois terços. A proteção de vítimas e testemunhas foi reforçada. Inquilinos envolvidos no tráfico de drogas poderão ser despejados mais facilmente. As autoridades também aumentaram a repressão a conteúdo online relacionado à venda de drogas. Além disso, presídios de segurança reforçada estão sendo construídos para receber traficantes. 
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  • ‘Parece a Disney’: moradores do bairro Montmartre estão preocupados com excesso de turistas em Paris
    A convivência entre os moradores de Montmartre e os turistas, cada vez mais numerosos no bairro parisiense onde vivem cerca de 27 mil pessoas, tem se tornado problemática nos últimos meses. Nas fachadas de alguns prédios, surgem mensagens como: "Deixem os moradores viverem". Com seus jardins escondidos, moinhos, vinhedos e a Basílica de Sacré-Cœur — o monumento mais visitado da França em 2024 —, a fotogênica Montmartre começa a sentir os impactos do turismo excessivo. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris O temor é que o bairro perca sua vida cotidiana. A franco-brasileira Dgiorgia Saurin acompanhou essa transformação. “Cresci em Montmartre, é o meu bairro do coração”, conta. “Vi as mudanças ao longo da minha vida, especialmente nos últimos dez anos”, continua. “O bairro ficou mais chique e turístico. Antes era mais popular. Quando meus pais chegaram, a gentrificação já começava, mas agora virou uma Disneylândia de Paris dentro de Paris”, compara. Com a mudança do público, sorveterias e lojas de souvenirs vêm gradualmente substituindo os serviços e o comércio de bairro, lamenta Caroline Lamour, fotógrafa e moradora de Montmartre. “Antes havia lojas de bairro, açougues, padarias, etc. Mas agora, aqui em Montmartre, só restaram restaurantes”, afirma. “Os pequenos comércios estão fechando um após o outro, dando lugar a lojas que vendem produtos importados chineses”, observa. Segundo a moradora, “desde os Jogos Olímpicos, houve um aumento enorme no turismo, o que faz com que, em certos períodos, haja tantos turistas que a gente mal consegue circular”. Empurrando um carrinho de gêmeos e segurando uma menina pequena pela mão, Delphine, babá e também moradora de Montmartre, confirma: há gente demais. “São ônibus inteiros que desembarcam. As pessoas nem deixam você passar, é impressionante. A gente evita o bairro quando pode”, explica. “Os turistas são bem-vindos, mas é preciso respeitar quem mora aqui”, exige. Subimos a ladeira para a famosa Basílica de Sacré-Cœur ao lado de Felipe, que acompanhava um grupo de brasileiros. "Pelo que eu vejo aqui, acredito que haja sim um fluxo grande, maior do que a capacidade do local em relação à quantidade de pessoas, principalmente nas ruas perto das estações de Anvers e Pigalle e obviamente na Sacré-Cœur", ele descreve. "Além disso, o comércio local acabou se tornando muito turístico", completa.  Outro sinal de alerta foi o fechamento de 20 turmas em escolas públicas, no ano passado, por falta de alunos. Pequenos veículos transportam os turistas no bairro, onde é preciso dirigir com atenção, nas ruelas tomadas por visitantes de todo o mundo, que vasculham as lojas de lembrancinhas. A circulação é delicada. "É muito difícil porque há muita gente, você pode rodar com a caminhonete em certos lugares, tem que ir bem devagar, não é fácil", diz o entregador Moussa. Em entrevista à RFI, ele conta que "todo dia é assim". Problema de moradia Como consequência da alta procura por Montmartre, um levantamento mostra que, em dez anos, os preços dos imóveis dispararam, variando entre € 12 mil e € 15 mil por metro quadrado — o que equivalente a cerca de R$ 80 mil por metro quadrado. Os aluguéis de longa duração praticamente desapareceram. Entre maio de 2019 e maio de 2025, o número de anúncios ativos no Airbnb aumentou 36%, segundo dados da empresa AirDNA. Montmartre se beneficia do aumento de 20% no número de turistas estrangeiros em Paris entre 2014 e 2024, de acordo com dados do Choose Paris Region. Só no ano passado, a capital francesa recebeu 22,6 milhões de visitantes internacionais. E 2025 promete ser um ano recorde. O turismo excessivo em Montmartre se tornou também uma questão política. Moradores temem a possível descaracterização de um bairro inteiro, com sua história e seu patrimônio. O exemplo a ser evitado, segundo muitos, é o bairro português de Alfama, que teria atingido um nível de saturação turística. William Gomes, brasileiro que vive em Portugal e visitava Montmartre, diz entender o receio dos parisienses. “Alfama é um lugar muito turístico em Lisboa. É bonito, sim. A questão é que o turismo atrai pessoas que nem sempre respeitam a cultura local”, acredita. “O morador não consegue entrar ou sair com o carro. Muitas vezes, há odores desagradáveis na porta de casa. Toda região turística tem essa complexidade”, avalia o brasileiro. A prefeitura reconhece que os aluguéis em Montmartre subiram, como em toda a capital francesa, mas admite que há um problema de oferta de moradia. Segundo Jean Philippe Daviaud, prefeito adjunto do 18º distrito de Paris, em entrevista à RFI, a cidade utiliza os instrumentos legais disponíveis para corrigir distorções. “A posição de Paris é clara: somos contra o Airbnb”, afirma, acrescentando outro ponto: “A cobrança de impostos sobre aluguéis de curta duração era, antes, mais vantajosa do que a de longa duração. Isso mudou: os valores foram alinhados. O número de dias permitidos para locação turística caiu de 120 para 80 por ano”, explica. Quanto ao fechamento de lojas essenciais no bairro, a prefeitura responsabiliza os proprietários de imóveis comerciais. “Nesse ponto, culpo os proprietários privados, que só pensam no lucro, sem se importar com a qualidade do comércio que vai se instalar, desde que o aluguel seja alto”, lamenta. “Nos imóveis administrados pela prefeitura, como os que ficam no térreo de moradias populares, somos nós que decidimos — e, nesses casos, priorizamos a diversidade comercial”, conclui. "Efeito Instagram" Para a prefeitura de Paris, a comparação com a Disneylândia não se aplica, já que Montmartre não possui uma decoração artificial, mas sim uma história autêntica. Segundo as autoridades locais, a preocupação dos moradores com o turismo não é nova. No entanto, a prefeitura reconhece que o número de visitantes aumentou nos últimos anos, em um bairro pequeno. Após os atentados terroristas de 2015 e a pandemia de Covid-19 em 2020, os moradores haviam se acostumado à queda na frequência. “Hoje, não temos uma explosão de turismo, mas sim o retorno ao que era antes do confinamento”, compara Jean Philippe Daviaud. “Montmartre é vítima do efeito Instagram. As pessoas se fotografam em frente a certos estabelecimentos e monumentos e publicam as imagens imediatamente, como prova de que estiveram ali”, observa. O desafio é conciliar o turismo com o bem-estar dos moradores de Montmartre.
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  • 'Nation branding': quando o marketing transforma um destino em sucesso turístico mundial
    O turismo mundial celebra a disparada dos números de visitantes percorrendo o planeta a lazer: em 2024, o setor recuperou os resultados pré-pandemia de Covid-19 e a tendência é que 2025 feche com novos recordes. O sucesso de uma série streaming ou um post nas redes sociais podem catapultar um novo destino turístico – à condição que os países ou cidades estejam preparados para receber uma invasão de visitantes. Apesar das preocupações crescentes com o impacto ambiental do turismo de massa, com as guerras em curso e a inflação em alta, os dados da ONU Turismo sinalizam bons ventos para o setor. Mais de 300 milhões de visitantes viajaram ao exterior no primeiro trimestre do ano, 5% a mais do que no mesmo período de 2024. Neste contexto, as ferramentas digitais deram impulso aos profissionais que trabalham para melhorar a imagem de um lugar aos olhos do resto mundo: o chamado nation branding. A especialidade busca aumentar a atratividade e a “simpatia” por uma cidade, região ou país, que pode despontar como um novo destino turístico por diferentes razões – a realização de um evento marcante, a locação em um filme, ou uma nova empresa que ali se instale. “Quando eu digo um destino, qual imagem, qual conceito ou ideia vem à sua mente? É disso que estamos falando, e as profissões de marketing de destinos se desenvolveram tão rápido porque têm consequências econômicas diretas”, explica o especialista francês Philippe Munier, diretor de desenvolvimento turístico da Bloom Consulting, à RFI. “Nós já mensuramos o peso dessas percepções: é cerca de 23% das receitas do turismo. Se um destino tem a capacidade de melhorar a qualidade de sua imagem em 0,1 ponto, em uma escala de 0 a 5, isso se traduz em 17% a mais na sua receita turística.” Imagem de lugar é crucial para a decisão do turista O estudo da Bloom Consulting, realizado em 55 países, indicou que a escolha de um turista é 86% motivada pela percepção que ele tem do lugar. O turismo traz na mala possibilidades de investimentos e movimenta o comércio local – mas esse potencial só vai se concretizar se houver visão estratégica dos atores públicos e privados sobre o que precisa ser feito para os visitantes serem bem recebidos. Eles então operarão como vetores exponenciais deste novo destino, ao espalharem a imagem positiva do local nas suas redes. “O imaginário turístico também serve para atrair e convencer investidores. A Michelin, por exemplo, precisa atrair talentos de outros lugares, às vezes do outro lado do mundo, para suas fábricas, escritórios e laboratórios no interior da França. E esses talentos, além do próprio argumento da empresa, preferem se estabelecer em uma área onde tenham a garantia de uma incrível variedade de atividades de lazer para seus fins de semana e para as férias de seus amigos que eles quiserem receber durante a sua expatriação”, salienta Munier. “Então o quanto o turismo é uma indústria, principalmente pela imagem que transmite, e que impacta todos os setores da economia.” Países do Golfo consolidaram posição no mapa turístico mundial Um dos exemplos mais marcantes de trunfo dessa estratégia são os países do Golfo. Os investimentos em massa em infraestruturas ultramodernas, como aeroportos, tornaram Emirados Árabes Unidos, Omã e, cada vez mais, até a Arábia Saudita, paradas obrigatórias não só para o trânsito entre Ásia e Ocidente, como os tornaram destinos turísticos consolidados no mapa mundial. Neste universo, o caso de Dubai é emblemático: fenômeno nas redes sociais, a cidade erguida no deserto recebeu um recorde de 18,7 milhões de visitantes no ano passado – muito à frente do Brasil, com 6,7 milhões. A professora de Ciências da Informação da universidade francesa de Clermont Auvergne, Nawel Chioni, também chama a atenção para o impacto fulminante que podem ter as séries de TV, retroalimentadas pelos posts nas redes sociais. A pequena cidade francesa de Colmar, por exemplo, teve de se acostumar com a avalanche de turistas chineses que vêm conhecer de perto as belezas que viram em um programa filmado na localidade. Leia tambémMilhares de pessoas protestam contra turismo de massa nas Ilhas Canárias   “É difícil prever o sucesso de uma série, porque a viralidade se baseia em algoritmos que não controlamos. Uma série pode gerar entusiasmo global em questão de semanas, às vezes até dias. Foi o que vimos no caso de 'Emily em Paris'”, nota a pesquisadora. “Os governos então precisam se adaptar: promover rapidamente visitas guiadas, placas de turismo, experiências em torno dos cenários e até mesmo trabalhar na parte logística, antecipando hospedagens turísticas para melhor receber os turistas, a parte de alimentação e transporte, para garantir que esse entusiasmo não se transforme em uma experiência negativa para as pessoas”, destaca Chioni.
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  • Moda circular e upcycling reforçam caminhos sustentáveis para um setor têxtil em transição
    No Brasil, em 2023 cada cidadão descartou, em média, 21 quilos de têxteis, couros e borrachas por ano, segundo levantamento da S2F Partners, hub especializado em gestão de resíduos e economia circular. Na Europa, o cenário também é preocupante: de acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente, cada habitante da União Europeia gera cerca de 16 quilos de resíduos têxteis anualmente. Diante deste quadro, impulsionado pelo mercado fast fashion, iniciativas como a moda circular e o upcycling de tecidos ganham força para promover uma economia mais sustentável. O objetivo é reduzir o impacto ambiental do setor têxtil e promover práticas que valorizem a reutilização das peças e a responsabilidade ambiental. Somente na França, a Refashion, organização de gestão e prevenção de resíduos têxteis, calcula que os franceses joguem fora em média 700 mil toneladas de roupas todos os anos – e os números vem aumentando, estimulados pelo alto consumo a baixos custos, facilitado pelas compras online.  Novas formas de consumo e redução do lixo têxtil  Em Paris, a estilista franco-brasileira Márcia de Carvalho está por trás da Chaussettes Orphelines, associação que oferece uma segunda vida às meias e outras peças pelo reaproveitamento de fios. As peças rejeitadas são transformadas em fios para bordados e costura. Márcia destaca a importância de marcas, agências do governo, associações e instituições “comunicarem e criarem uma pedagogia em volta do desse assunto”, para alertar o consumidor final sobre o descarte de roupas e calçados.  “É super importante porque é uma mudança de comportamento. A gente tenta fazer isso comunicando através das coletas e explicando que tem outras formas de tratar o lixo, que começa já pela triagem", explica. "Não é apenas jogar fora, mas procurar lugares que vão transformar. É um primeiro gesto de para redução desse lixo têxtil. Outra coisa é a pedagogia do conserto, do reparo, de customizar a peça, que é um jeito bem legal de reduzir esse lixo”, defende a estilista. Em Paris, a Chaussettes Orphelines divulga oficinas para encorajar o conserto de roupas e a criatividade para transformar peças antigas ou com algum defeito. A iniciativa também já capacitou centenas de mulheres para o mercado de trabalho, desde 2008. Márcia enfatiza ainda a coletas de materiais que a associação realiza em empresas e que cofinanciam as iniciativas de upcycling.  Ressignificar os resíduos têxteis industriais   No Brasil, dados de 2023 indicam um descarte de 4,6 milhões de toneladas de lixo têxtil por ano pela população. Mas os números são mais impressionantes na indústria, que jogam fora cerca de 37 vezes mais, mesmo que o país tenha uma série de leis que regulamentam a reciclagem de resíduos industriais, salienta Ariane Santos, fundadora da empresa paranaense Badu Design, que atua no upcycling socioambiental.   “São mais de 170 milhões de toneladas de material residual por ano. Tem a regulamentação, mas não tem a fiscalização, então o número hoje de material residual industrial é bem maior. A gente fala que é só a ponta do iceberg. São materiais que devem durar mais de 500 anos no meio ambiente”, aponta Ariane.   O trabalho da Badu Design é dar uma nova vida aos resíduos industriais têxteis das empresas e também de gerar empregos, já tendo formado mais de 1,5 mil mulheres periféricas em design circular de transformação residual, no Paraná, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, e, em breve, em Minas Gerais.  “O que a gente faz hoje é oferecer para as indústrias um serviço que visa ressignificar esse material. Algumas empresas fornecem toneladas de materiais. Formamos mulheres em periferias e favelas para fazer toda uma produção de produtos que têm design mais contemporâneos e que venham agregar valor. Depois, essa empresa faz a recompra”, diz, à RFI.  Ariane Santos conta que a capacitação gera uma mudança econômica para as mulheres que estão na periferia e favela. “A gente também faz com que a indústria não veja [o descarte de resíduos têxteis] como mais uma ação social, mas sim como uma responsabilidade que ainda agrega valor para ela em dois pontos: na questão da imagem da empresa sobre riscos ambientais, evitando multas, mas também trazendo uma possibilidade de ser rentável”, esclarece.  As duas empresárias, com atuação no Brasil e na França, acreditam que a adaptação econômica por meio da transformação dos resíduos pode movimentar uma mudança cultural no setor têxtil, um dos setores da indústria que mais poluem o planeta. 
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Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.
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