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Um pulo em Paris

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  • Voto decisivo no Parlamento: desgaste da confiança na política na França desafia governo
    A França vive, neste momento, algo que o Brasil conhece: a falta de confiança na política. O país tem enfrentado sucessivas crises nos últimos anos, e o desgaste é visível. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Ao pedir um voto de confiança no Parlamento na segunda-feira (8), o primeiro-ministro François Bayrou não apenas tenta garantir a governabilidade, mas também convoca a sociedade a um esforço coletivo: cortar € 44 bilhões no orçamento de 2026, num momento em que os franceses já sentem uma queda na qualidade dos serviços públicos.  A oposição já disse que não irá renovar a confiança no primeiro-ministro francês, abrindo uma nova etapa excessivamente delicada para o presidente Emmanuel Macron, que já teve seis chefes de governo em oito anos. Com essa instabilidade, somada à insatisfação que vinha desde o movimento dos "coletes amarelos", em 2018, os franceses perderam a confiança em relação à capacidade dos políticos de resolver os problemas. A cólera dos "coletes amarelos" — que surgiu em 2018 como expressão da insatisfação de muitos franceses — continua presente no imaginário coletivo. Eles denunciam uma desconexão entre o sistema político da vida cotidiana dos cidadãos.   O que só piora em um ambiente de desinformação e fake news. Recentemente, por exemplo, circularam boatos sobre um possível confisco da poupança, após a divulgação de projetos de investimento em defesa. Alguns usuários nas redes sociais chegaram a comparar ao confisco da poupança no Brasil, em 1990. As autoridades francesas desmentiram categoricamente essa possibilidade. Diante desse clima de insegurança, sem visão sobre o futuro, os franceses decidiram guardar dinheiro no banco, pararam de consumir supérfluos. Segundo balanço oficial do Banco da França, no final de junho, os franceses tinham cerca de € 5,4 bilhões em poupança e outros tipos de aplicação financeira tradicionais. Por terem medo de uma nova crise financeira, também parecem menos dispostos a colaborar para um plano de ajuste fiscal. Eles denunciam uma desconexão entre o sistema político e a vida cotidiana. Aos olhos de muitos, o Parlamento e o governo francês perderam a capacidade de representar os interesses reais da população. O discurso político parece cada vez mais distante da realidade. Um ano após a dissolução da Assembleia Nacional pelo presidente Emmanuel Macron, e a formação de sucessivos governos de coalizão que frustraram parte do eleitorado — tanto da direita, quanto a esquerda — a população demonstra crescente descrédito.  Manifestações marcadas Um dia de paralisação nacional está marcado para quarta-feira (10), e os sindicatos já convocaram outro dia de mobilização para 18 de setembro. O objetivo é expor a decepção e a contrariedade diante de uma classe política que, aos olhos de muitos, perdeu a capacidade de representar os interesses reais da população.   Segundo o Barômetro de Confiança Política, publicado em fevereiro de 2025, apenas 26% dos franceses confiam na política — um dos índices mais baixos da Europa. Atrás da Alemanha (47%) e da Itália (39%). Apenas 23% confiam no presidente da República, e 27% no primeiro-ministro. A Assembleia de Deputados tem apenas 24% de aprovação e a população tem a impressão de ser sacrificada há anos. A proposta do governo de eliminar dois feriados, a Páscoa e o 8 de maio (data que marca a vitória dos Aliados contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial), foi considerada como a "gota d’água”, depois de cortes no funcionalismo público, das reformas do seguro-desemprego e das aposentadorias. O governo também sinalizou com o aumentando da jornada de trabalho para 36 horas semanais, o que piorou o descontentamento. Ninguém parece disposto a trabalhar mais, sem ser pago, como propôs o primeiro-ministro. O endividamento francês e a credibilidade do país A meta é reduzir o déficit público para 4,6% do PIB em 2026 — uma queda em relação aos 5,4% previstos para 2025.  Reequilibrar as contas públicas é mais do que uma questão contábil: tem impacto direto na soberania nacional. O elevado nível de endividamento levanta dúvidas sobre a credibilidade da economia francesa no cenário internacional.   Atualmente, a dívida pública representa cerca de 114% do PIB, o que coloca a França como a terceira mais endividada da zona do euro, atrás apenas da Grécia e da Itália.  Quem pagará a conta? Entre as pistas apresentadas para conter o que o governo chama de "maldição do superendividamento", está o congelamento das despesas públicas por um ano. No entanto, ainda não está claro qual será a abrangência dessa medida e quais setores serão afetados.   Com a inflação estabilizada em torno de 1%, o governo apresenta o congelamento como uma forma de mobilizar todos os franceses em um esforço coletivo para reequilibrar as contas públicas.  A oposição insiste na necessidade de uma cobrança mais incisiva sobre os mais ricos. Ao apresentar as linhas de seu projeto em 15 de julho, o primeiro-ministro François Bayrou mencionou brevemente o tema, propondo uma contribuição excepcional voltada aos mais afortunados: um “imposto de solidariedade” para essa faixa da população. No entanto, nenhuma estratégia concreta foi detalhada, o que gerou críticas sobre a falta de transparência e profundidade da proposta.  Mas o equilíbrio das contas fica mais difícil quando o orçamento da Defesa precisa aumentar porque a conjuntura internacional mudou. O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou um aumento do orçamento para Defesa: serão € 3,5 bilhões adicionais em 2025 e mais e 3 bilhões em 2027, com o objetivo de atingir um total de € 64 bilhões por ano.  A medida busca fortalecer a capacidade militar da França diante de ameaças externas, incluindo a representada pela Rússia. Os europeus estão com medo com perspectiva de os Estados Unidos reduzirem a proteção que dão à Europa desde o fim da Segunda Guerra. E o conflito na Ucrânia, sem solução a curto prazo, exige investimentos do bloco. Estabilidade política Todas essas propostas têm impacto no campo financeiro, mas também na estabilidade política.  Antes de François Bayrou, em dezembro do ano passado, Michel Barnier renunciou ao cargo após a aprovação de uma moção de censura pela Assembleia Nacional. Sua proposta de orçamento havia sido rejeitada, evidenciando a fragilidade política do momento.  Agora é a vez de Bayrou tentar mostrar que tem margem de manobra. Mas o cenário é desfavorável: os principais partidos — da extrema direita à esquerda radical — já anunciaram que não pretendem apoiá-lo.  A governabilidade depende de negociações delicadas e de uma capacidade de articulação que será posta à prova nos próximos dias.   Alguns analistas chegaram a classificar a proposta como um “suicídio político” do primeiro-ministro.  Bayrou, que passou boa parte de sua carreira alertando os franceses sobre os riscos da dívida pública, completa oito meses à frente do governo apostando todas as fichas em um plano de ajuste fiscal. Mesmo que isso lhe custe o cargo, ele parece determinado a enfrentar o desafio — convencido de que o país precisa de uma virada estrutural. Parlamento dividido O primeiro-ministro francês vai à Assembleia Nacional defender sua proposta, na tentativa de convencer um Parlamento profundamente dividido.  Ao contrário do que acontece no Parlamento Europeu, onde as oposições conseguem formar consensos, o cenário francês é marcado por fragmentação e embates ideológicos.  A estratégia política tem sido marcada mais por confrontos e apego a posições individuais do que articulações entre os diferentes partidos.  É por isso que muitos analistas já preveem a queda do primeiro-ministro, caso o cenário não mude. A falta de diálogo e de apoio parlamentar pode comprometer a viabilidade do projeto — e, com ele, a permanência de Bayrou no cargo.  O mandato do presidente Emmanuel Macron termina em 2027 e ele pode convocar novas eleições. Muitas vozes nesse momento defendem a renúncia do presidente. Macron descarta deixar o cargo antes do prazo e a Constituição garante que ele permaneça até o fim de seu mandato.
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  • Volta às aulas na França: educação afetiva e sexual nas escolas divide pais e mobiliza professores
    Fim de férias de verão na França. Nesta-sexta-feira (29), 850 mil professores retornaram às escolas, um número que se manteve, mesmo com uma queda de mais de 100 mil alunos devido a uma baixa demográfica. Ao todo, 12 milhões de estudantes franceses voltarão às aulas na segunda-feira (1°), com algumas novidades: entre elas a proibição do uso do celular em classe e a adoção de cursos que preparam para os desafios da vida afetiva.   Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris A primeira medida, não é totalmente nova: a “pausa digital”. Em outras palavras, a proibição do uso de telefones celulares nas escolas de ensino fundamental. Essa regra já tinha sido definida por uma lei de 2018, embora nem todas as escolas a respeitassem. A partir de segunda-feira, os alunos terão de guardar os seus celulares em armários ou nas mochilas. Cada escola terá liberdade para organizar isso e garantir o respeito a essa regra. O objetivo é combater o uso excessivo de telas. Para garantir esse tempo de desconexão, até a ferramenta virtual usada na comunicação entre pais, professores e alunos — onde são registradas as notas e as lições de casa — terá as interações interrompidas entre 20h e 7h, em dias úteis e totalmente nos fins de semana. A regra de ficar offline por um tempo serve tanto para os professores quanto para os alunos. Outra novidade nesse ano letivo é o reforço nos programas de francês e matemática, porque os franceses caíram nos rankings internacionais.  Mas o que chama a atenção em especial nessa volta às aulas é a adoção de novos programas de educação sobre a vida afetiva, relacionamentos em geral e a sexualidade. Esses cursos deverão ser incluídos no currículo em todos as escolas públicas e privadas do país, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Valores fundamentais Os conteúdos serão adaptados conforme a idade dos estudantes. O governo francês quer transmitir valores fundamentais desde a infância, prevenir as discriminações, lutar contra a violência e o assédio.  No jardim de infância e no ensino fundamental, ou seja, dos 3 anos até os 10, 11 anos, os professores irão ensinar os alunos a reconhecer as emoções e também irão abordar questões ligadas à descoberta do corpo, como desenvolver o respeito e a empatia.  Por exemplo, não olhar para um amigo que está no banheiro, saber quando abraçar ou pegar a mão de um colega, tudo isso visando que as crianças compreendam desde cedo o sentido do consentimento. Até para que elas saibam o que fazer se um amigo divulgar uma foto íntima sem permissão, ou se alguém insistir em um contato físico.  Nessa faixa etária também já poderá ser discutida a igualdade entre meninas e meninos, mas não se aborda a sexualidade ainda.  Já entre os adolescentes de 11 a 15 anos, os professores darão informações sobre sexualidade e saúde, métodos contraceptivos, reprodução e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.  Também entram nessa conversa o combate à homofobia, a conscientização sobre estereótipos de gênero, para ajudar os alunos a desenvolverem um espírito crítico e sensibilizar os estudantes contra o preconceito. Cada turma deverá ter no mínimo três aulas de duas horas por ano sobre esses assuntos. Formação de professores A educação sobre vida emocional, relacionamentos e sexualidade já é obrigatória por lei na França desde 2001 e, por isso, muitos professores e outros profissionais do sistema educacional foram formados. Mas esses cursos não eram generalizados. Na prática, havia disparidades entre as escolas e muitas não seguiam o programa. Até agora, apenas 15% dos estudantes franceses receberam essas sessões de educação afetiva e sexual.  Para apoiar os professores nessa nova diretriz, eles têm passado por um novo treinamento desde o primeiro semestre. Tudo depende de uma boa comunicação, defende a ministra da Educação Nacional, Élisabeth Borne. Os programas são explicados em cartilhas impressas que foram enviadas aos pais e também podem ser consultados online. E mesmo os professores franceses, que geralmente são bem resistentes às propostas dos políticos, estão animados com os novos conteúdos e satisfeitos por poder tratar desses assuntos em sala de aula. Pais mais conservadores estão preocupados  Apesar do apoio institucional, os novos programas de educação afetiva e sexual nas escolas francesas têm gerado preocupação entre alguns grupos. As críticas mais contundentes vêm de setores conservadores, geralmente ultrarreligiosos em suas convicções, que defendem que esse tipo de conteúdo deveria ser transmitido exclusivamente pelas famílias, e não na escola pública. A polêmica tem sido explorada por partidos de extrema direita. Embora não represente a maioria dos pais, há um grupo, por exemplo, o 'Pais Vigilantes', ligado ao partido Reconquista, que tem se mobilizado. O líder do Reconquista, Éric Zemmour, que foi candidato à presidência em 2022, chegou a lançar um guia orientando os pais a questionar esses programas durante as reuniões escolares e a denunciar práticas que considerarem inadequadas ou invasivas. No entanto, os dados oficiais reforçam a urgência da iniciativa. Estima-se que 33% das crianças francesas tenham sido expostas à pornografia antes dos 12 anos. Além disso, entre duas e três crianças por turma são vítimas de incesto. Diante desses números alarmantes, o Estado reafirmou o papel vital das escolas na prevenção e manteve o programa do Ministério da Educação. Qualidade do ensino Para a maioria dos pais, havia outras questões prioritárias: a falta de cerca de 6 mil professores em sala de aula, o que compromete a aprendizagem dos alunos, e a falta de incentivo à carreira na educação. Os profissionais do setor não tiveram reajustes salariais em 2024 e 2025. Segundo o Departamento de Estudos Estatísticos do Ministério da Educação, em 2023, um professor em tempo integral recebeu, em média, € 3.010 líquidos — pouco mais de R$ 6.000, o que pode ser muito para um brasileiro, mas é apertado para o custo de vida na França. Outra preocupação crescente é o alto nível de endividamento do Estado. O primeiro-ministro François Bayrou propôs a redução de 3 mil postos de trabalho no setor público até 2026, como parte de um plano de contenção orçamentária. Os professores estão preocupados com a possibilidade de que a educação, que já recua no país, seja mais uma vez sacrificada.
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  • Após morte ao vivo de influenciador, plataformas de streaming entram na mira do governo da França
    A morte de um influenciador francês na segunda-feira (18), durante uma transmissão em tempo real, chocou a França. Raphael Graven, 46 anos, morreu durante um streaming que tinha previsão de durar doze dias. Enquanto o caso é investigado, o governo francês debate medidas para melhorar o controle de conteúdos e práticas nessas plataformas. Daniella Franco, da RFI em Paris “Ops, algo deu errado”: essa é a mensagem exibida nesta sexta-feira (22) na plataforma de streaming Kick quando o canal de Jean Pormanove – também chamado de JP – é procurado. Esse era o pseudônimo usado pelo francês neste site de transmissões em tempo real que exibiu, entre tantas humilhações e violências impostas por outros influenciadores, sua própria morte.  Após ter bloqueado no início da semana os polêmicos vídeos em que JP aparece sendo alvo de agressões físicas e psicológicas pelos gamers Narutovie e Safine, a Kick voltou a liberar o acesso ao material na quinta-feira (21). A justificativa fornecida pela direção da plataforma foi o desejo de colaborar com as investigações as autoridades francesas. No entanto, o site foi acusado de querer tirar proveito da popularidade que alcançou com a morte do influenciador. Ameaçada pela Autoridade de Regulação da Comunicação Audiovisual e Digital da França (Arcom) de ter seu funcionamento proibido no país, a plataforma voltou atrás em sua decisão nesta tarde. Enquanto isso, investigadores têm a missão de assistir a mais de 300 horas de gravações da fatídica transmissão para tentar compreender as circunstâncias da morte de JP. Dupla investigação O canal "Jeanpormanove" na plataforma Kick é alvo de uma dupla investigação do Ministério Público de Nice, no sul da França. A primeira teve início em dezembro após a publicação de uma reportagem do site francês de notícias Mediapart, e a outra foi aberta após a morte de JP. O influenciador entrou no universo dos streamings de jogos online há cinco anos, fazendo transmissões na plataforma americana Twitch. Com reações exageradas e teatrais, ele se tornou famoso na comunidade de gamers. Com outros três streamers de um grupo chamado Le Lokal, JP passou a fazer lives na Kick, devido às regras mais brandas, um controle menor das performances e uma remuneração maior do que em outras plataformas. Com o objetivo de provocar reações exageradas em JP, dois influenciadores do grupo, Narutovie e Safine, começaram a agredi-lo, e observaram os pagamentos dos seguidores aumentarem com as violências, que iam de humilhações e xingamentos a socos, chutes, estrangulamentos e sufocamentos. Segundo a imprensa francesa, o próprio JP faturava por mês até € 6 mil (cerca de R$ 38 mil). Morte ao vivo Em agosto, o grupo Le Lokal anunciou o desafio de realizar um streaming de 12 dias, sem interrupção, de uma casa alugada no sul da França. Durante a transmissão, JP era frequentemente espancado e chegou a receber choques elétricos de uma coleira instalada em seu pescoço. No segundo dia, o influenciador comentou com os colegas que não estava passando bem e que precisaria ir a um hospital, mas foi impedido. JP também enviou uma mensagem para a mãe dizendo ter sido “sequestrado” por “um conceito de merda”. Na madrugada do décimo dia do streaming, o grupo estava dormindo diante das câmeras quando seguidores começaram a alertá-los do comportamento incomum de JP, pálido e imóvel durante horas. Um dos gamers chegou a atirar uma garrafa de água na cabeça do influenciador, que não reagiu. A live foi subitamente interrompida e a polícia foi acionada, confirmando a morte de JP. Resultado da autópsia Os primeiros exames, realizados pelo Instituto Médico Legal de Nice, foram revelados na noite de quinta-feira (21), e apontaram que o corpo do JP não apresenta “lesões traumáticas”. O laudo afirma que as prováveis causas da morte “parecem ser de natureza médica ou toxicológica”. O jornal Le Monde obteve informações com uma fonte próxima às investigações que diz que o trabalho se concentra agora em saber se outros elementos ligados ao streaming poderiam ter ocasionado a morte do influenciador. As escassas horas de sono podem ter resultado em uma crise cardíaca, ou o consumo de produtos tóxicos - incentivado pelos seguidores da transmissão - pode ter envenenado JP. Por meio de advogados, os gamers que agrediam JP alegam que tudo se tratava de uma encenação e que a vítima consentia participar do que chamam de “brincadeiras”. No entanto, a irmã do influenciador, classifica sua morte de “intolerável” e acredita que JP tenha morrido “de exaustão”. A ministra francesa da Inteligência Artificial e do Digital, Clara Chappaz, classificou o caso de “horror absoluto” e acionou a Arcom, o mais alto órgão de supervisão de mídias na França e a Plataforma Pública de Alerta a Conteúdos Ilícitos na Internet. A ministra também exigiu explicações sobre as falhas de moderação na plataforma Kick, evocando a possibilidade de interdição da plataforma. O governo francês estuda a possibilidade de um maior controle dos streamings, prevendo uma possível penalização dos usuários que incentivarem violências nas transmissões. Já o presidente Emmanuel Macron defende a proibição das redes sociais para os menores de 15 anos.
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  • 'Sono não é luxo, mas necessidade biológica': França quer incentivar população a dormir mais
    O governo da França lançou no final de julho um programa para orientar a população do país a dormir melhor. O motivo: a média de horas de sono vem caindo nas últimas décadas e isso tem um forte impacto na saúde e na produtividade dos cidadãos. Daniella Franco, da RFI O alerta veio do próprio Ministério da Saúde da França que apontou recentemente que um a cada cinco franceses dorme menos de seis horas por noite. Nos últimos 50 anos, a média de horas dormidas por noite caiu 1h30, levando 45% da população a desenvolver pelo menos um distúrbio relacionado à falta de sono. O fenômeno não atinge apenas os adultos. Segundo o balanço, 30% das crianças e 70% dos adolescentes da França não dormem suficientemente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ao menos sete horas de sono por noite para um adulto. Para adolescentes, a indicação é de oito a 10 horas. Já para as crianças, a quantidade de horas a serem dormidas varia em relação a cada fase da infância, oscilando entre nove a 14 horas de sono necessárias. O que tira o sono dos franceses Uma rotina insalubre, combinando horários desregulados, sedentarismo, estresse e más condições de trabalho explicam a má qualidade do sono da população francesa. Outros fatores exteriores impedem os franceses de dormir, como as oscilações de temperatura devido às mudanças climáticas e a poluição sonora – um outro grande problema dos centros urbanos do país. Além disso, outro hábito da vida moderna que atrapalha o sono na França é a dificuldade de desligar da internet. Segundo o site de análise de dados móveis Data AI, os franceses passam em média pouco mais de 3h30 por dia no celular. Além do estímulo mental, a luz azul emitida pelas telas dos smartphones e tablets interfere na produção da melatonina, hormônio que regula o sono. Esses maus hábitos combinados resultam em “uma dívida generalizada de horas dormidas” na França, avaliou o ministro francês da Saúde, Yannick Neuder, ao apresentar o programa que pretende ajudar os franceses a dormirem, no último 22 de julho. Cinco grandes desafios O programa do Ministério da Saúde da França é baseado em cinco grandes desafios. O primeiro deles é sensibilizar o grande público sobre a necessidade de dormir bem, já que se criou no imaginário coletivo a ideia de que poucas horas de sono é algo nobre – ou como diz um ditado francês, “o futuro pertence àqueles que acordam cedo”. O segundo ponto do programa aborda esse tabu e pretende criar uma cultura de valorização e priorização do sono desde a infância. O governo quer também incentivar empresas e estabelecimentos de educação a melhorar o ritmo das atividades. Outra prioridade é lutar contra a poluição sonora, um problema comum nos grandes centros urbanos da França. O país vem investindo em uma série de projetos para atenuar o barulho nas cidades, principalmente no trânsito. Os dois últimos pontos dizem respeito à saúde: o governo quer prevenir e tratar melhor os distúrbios relacionados à falta do sono e aprimorar o acesso da população aos cuidados e aos tratamentos. Além disso, o programa prevê um aumento nos investimentos em pesquisas científicas sobre o sono. “O sono não é um luxo, é uma necessidade não negociável”, diz o ministro da Saúde da França. Yannick Neuder salienta que dormir “é bem mais do que um momento de descanso, é um processo biológico essencial”.
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  • Eleições municipais de 2026 reacendem debate sobre carros nas áreas centrais das cidades francesas
    A menos de um ano das eleições municipais de 2026, a mobilidade urbana volta ao centro do debate político na França. Um dos assuntos discutidos é a transformação de ruas no centro das cidades em áreas de pedestres. A proposta de restringir o acesso de carros às áreas centrais das cidades, defendida por ambientalistas e parte de alguns gestores públicos, gera reações distintas na população francesa, especialmente entre os moradores da capital e os de outras cidades periféricas.  Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Em Paris, essa medida avança. Faz parte do plano da prefeita socialista Anne Hidalgo, que está no cargo há onze anos e tem como objetivo tornar Paris mais verde e menos poluída. Ela é entusiasta do conceito da “cidade de 15 minutos”, em que tudo está a uma caminhada de distância.  Já fora da capital, uma consulta realizada pela plataforma cidadã Mon Avis Citoyen, com moradores de 386 cidades de diferentes portes da França, revelou que a maioria - 72% dos entrevistados - é contra a interdição de carros nos centros urbanos. Em 2022, essa porcentagem era de 70%.    Um dado novo revelado por essa enquete é que a oposição à proibição de carros aumentou 16% nas cidades com população entre 30 mil e 50 mil habitantes, consideradas de médio porte na França. Entre os principais motivos apontados pelos entrevistados estão a dependência do automóvel nas atividades cotidianas, como ir ao comércio local, além do receio de impactos econômicos negativos para as cidades.    A consulta mostrou, no entanto, disparidades conforme a idade dos entrevistados e o perfil das cidades. Jovens adultos (18 a 29 anos) aumentaram seu apoio à interdição de carros nos centros urbanos (+9% desde 2022). Já a faixa acima de 70 anos permanece majoritariamente contrária à medida.    Nas pequenas e médias cidades, onde a oferta de transporte público é limitada, o carro continua sendo uma necessidade.    Até 2015, a regulamentação francesa impedia a operação de linhas regulares de ônibus entre regiões, algo comum no Brasil. Somente após a promulgação da chamada “Lei Macron”, em agosto de 2015, foi autorizada a abertura do setor de transporte rodoviário à concorrência.  Em média, os franceses percorrem 52 km por dia, segundo os dados da Agência de Transição Ecológica do governo. Desse total, 64% dos deslocamentos são feitos de carro. Paris tem plano de longo prazo Paris é uma capital conhecida por sua boa oferta de transporte público, e os moradores parecem se adaptar bem à ampliação dos espaços para pedestres. Essas mudanças fazem parte de um plano maior, com um orçamento de € 300 milhões (quase R$ 2 bi) em investimentos entre 2023 e 2030 para a transformação e adaptação da cidade às mudanças climáticas.  Na região metropolitana, caminhar é o meio de transporte mais popular (38%, um aumento de 4 pontos percentuais desde 2008) e o transporte público representa um quarto de todos os deslocamentos. Em Paris, o poder público submeteu o assunto à população, em um referendo ocorrido em março. Os parisienses que compareceram às urnas aprovaram majoritariamente a transformação de 500 novas ruas em zonas livres de carros, uma medida apoiada por 66% dos votantes. Essas 500 ruas se somam às 300 ruas exclusivas para pedestres já criadas desde 2020. Ao todo, mais de 10 mil vagas de estacionamento serão fechadas.  Nesse referendo, somente o 7º, 8º e 16º distritos, governados pela direita, votaram contra a eliminação dos carros das ruas de Paris. A oposição argumenta que a taxa de participação no referendo foi baixa: 4% dos eleitores.   Moradores de Montmartre protestam  Em Montmartre, um dos bairros mais turísticos de Paris, uma das poucas colinas da capital, a criação de uma área exclusiva para pedestres está gerando polêmica. Consultas públicas estão sendo realizadas com a população, nas quais a administração municipal defende os benefícios ambientais da medida para a qualidade de vida dos habitantes.     No entanto, faixas penduradas nas fachadas de edifícios exibem mensagens como: “moradores esquecidos pela prefeitura” ou “deixem os moradores viver”. Os protestos são uma reação ao projeto que pretende tornar várias ruas em áreas exclusivas para pedestres.  Alguns temem que o fechamento prejudique o acesso em uma região com relevo acentuado. Uma associação local, Vivre à Montmartre, entrou com uma ação judicial contra o projeto.    Alguns moradores de Montmartre estão preocupados com as entregas e o acesso de idosos com mobilidade reduzida, entre outras questões. Para o poder público, a iniciativa visa devolver o espaço urbano aos pedestres, reduzir a poluição, com melhoria da qualidade do ar, redução do ruído e, sobretudo, ampliar o espaço para a circulação de pessoas.   É em Montmartre que fica a Basílica de Sacré-Cœur, o monumento mais visitado da França em 2024, com 11 milhões de visitas, mais do que a Torre Eiffel.      Perguntada pela RFI, a sub-prefeitura de Montmartre diz não acreditar que o fechamento para carros será um atrativo adicional para turistas que já visitam o local, como temem alguns moradores, preocupados com a visitação de massa. O poder público sugere que essa área de pedestres seja restrita às ruas que compõem o antigo vilarejo histórico de Montmartre. Mas destaca que a mudança se inscreve numa política comum a toda a capital francesa, de ampliar os espaços destinados à circulação de pedestres.   Mobilidade e sustentabilidade Essa questão da mobilidade e sustentabilidade deverá ter um papel importante nas eleições do ano que vem.  O contraste entre Paris e a chamada “França periférica” evidencia uma divisão territorial e social que pode influenciar o voto nas próximas eleições. Com a mobilidade urbana se tornando um tema-chave da campanha, candidatos de diferentes espectros políticos já começam a se articular.   Em áreas urbanas densamente povoadas, há mais alternativas ao carro particular.   Na capital, cerca de 33% dos domicílios têm carro. Nos subúrbios e cidades menores, onde vivem cerca de 10 milhões de pessoas, essa proporção sobe para 66%.    A disputa entre sustentabilidade e acessibilidade promete marcar o debate eleitoral em 2026, na discussão sobre o futuro das cidades francesas. 
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Sobre Um pulo em Paris

Direto da redação da Rádio França Internacional em Paris, em parceria com a Rádio CBN, Adriana Moysés e Daniella Franco contam as novidades e curiosidades de um dos lugares mais visitados do mundo.
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