#408 Bestial Devastation: a origem do Sepultura e a cena do metal brasileiro em 1985
“Bestial Devastation” não é só o primeiro registro do Sepultura. É quase um manifesto cru, barulhento e desajeitado — no melhor sentido possível — de uma molecada de Belo Horizonte que queria soerguer o metal extremo no Brasil na marra. Dá pra sentir esse espírito em cada segundo das faixas, inclusive nos erros, microfonias e exageros adolescentes. É justamente isso que torna o disco tão simbólico.O ano de 1985 foi um caldeirão quente. O país acabava de sair da ditadura militar, o Rock in Rio tinha acabado de acontecer, e a cultura jovem começava a respirar sem tanto peso no peito. Mas o underground ainda era um território bruto. Tudo era feito com fita cassete, boca a boca, zines xerocados e uma enorme vontade de perturbar o status quo.Enquanto o mainstream celebrava Paralamas, Blitz e Barão Vermelho — todos ótimos, claro — alguns garotos em BH preferiam ir pro lado mais sombrio da força. A capital mineira, curiosamente, se tornou um dos berços mais férteis do metal extremo na América Latina. Metrópolis pesada, industrial, cheia de becos sonoros perfeitos para riffs diabólicos.A tape-trading internacional (troca de fitas entre fãs do mundo todo) começava a colocar o Brasil no mapa do metal extremo. Nomes como Sarcófago, Mutilator, Chakal, Holocausto e, claro, Sepultura formavam o embrião do que viraria o Cogumelo Records style. Era feio, sujo e completamente autêntico.O disco saiu como lado B de um split com o Overdose, chamado Bestial Devastation / Século XX. Foi lançado pela lendária Cogumelo Records, que quase funcionava como uma espécie de “Motorola do metal”: pequena, improvisada, mas decisiva.O som é um híbrido de black metal primitivo com thrash apressado, riffs cortantes e uma bateria que parece gravada dentro de um buraco — e funciona. Max ainda não tinha o vocal encorpado e tribal dos anos 90; ali ele soa como um adolescente possuído lendo trechos de grimório.Faixa por faixa:• 01 The Curse – Um intro narrado, beirando o tosco, mas absolutamente icônico. Aquele tipo de abertura que tenta invocar o inferno com uma fita de VHS.• 02 Bestial Devastation – Aqui o Sepultura realmente nasce. Velocidade, caos, letras sobre profanação… a receita ideal pra fazer a cena internacional virar o pescoço na direção de BH.• 03 Antichrist – Assinada liricamente pelo Wagner Lamounier (sim, o futuro vocal do Sarcófago). Essa conexão entre as bandas mostra como a cena mineira era uma caldeira coletiva.• 04 Necromancer – Uma das faixas mais queridas pelos fãs antigos. Um proto–death metal cheio de clima e riffs quase punk na estrutura.• 05 Warriors of Death – Um fechamento épico, ainda na pegada blasfema e adolescente, mas com atitude o suficiente pra virar clássico.• Max Cavalera – Vocal rasgado, guitarra rítmica crua, pura urgência.• Jairo Guedz – Guitarra solo repleta de influência de Venom e Slayer.• Paulo Jr. – Baixo simples, mas firme; essencial num cenário de pouca técnica disponível.• Igor Cavalera – O mais impressionante ali: jovem, mas já com uma pegada absurda.#Sepultura #BestialDevastation #MetalBrasileiro #Metal1985#ThrashMetalBrasil #BlackMetalBrasil #CenaUndergroundBH OUÇA NOSSO OUTRO PODCAST: Novidades do Rock – sua fonte semanal de descobertasNo comando está o jornalista Aroldo Glomb! Na bancada: Demetrio Ferreira Czmyr ,Cristiano Moura, Bredi Vian Marinho e Aldo Portes de França.Participação de Rodolpho Marques do Carmo!APOIE NOSSO PROJETO https://apoia.se/antigasnovidades