José Eli da Veiga: Economistas ainda pensam em crescimento eterno
Nem abandonar a ideia de crescimento econômico nem confiar nela cegamente. José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, recorre a essa dupla negativa para sintetizar sua análise em "O Antropoceno e o Pensamento Econômico", terceiro volume de sua trilogia sobre as ciências e as humanidades em um período de crise climática e transformação acelerada do planeta pela sociedade. No livro, o intelectual revisita escolas e pensadores à margem do mainstream da economia para sustentar que a disciplina não acompanhou o avanço da fronteira do conhecimento e ainda passa ao largo, por exemplo, da teoria da evolução e da física moderna. Em razão disso, Veiga argumenta, o pensamento econômico ignora os fluxos de energia e matéria envolvidos no processo de produção, o que faz com que economistas concebam um crescimento eterno e não se preocupem com as condições de vida das gerações futuras. Neste episódio, o pesquisador fala sobre as ideias de crescer decrescendo e decrescer crescendo, um caminho do meio entre manter o modelo atual e as propostas de decrescimento da economia. Veiga também discute o impasse em fóruns multilaterais dedicados à crise ambiental, como as COPs. Para ele, negociações entre as corporações e os governos responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa teriam mais resultado que encontros anuais com a participação de mais de uma centena de países. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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44:40
Juliano Spyer: O que explica o crescimento evangélico no Brasil
Muito se falou sobre os evangélicos nos últimos anos —talvez, com ainda mais força, desde o governo Bolsonaro, quando bispos e pastores viraram personagens onipresentes da cobertura política. No entanto, para Juliano Spyer, antropólogo e colunista da Folha, persiste um desconhecimento sobre o mundo dos crentes ou um preconceito deliberado, que associa à fé evangélica à manipulação de pessoas desesperadas e minimiza a importância do segmento na definição dos rumos do Brasil. Neste episódio, Spyer apresenta uma espécie de guia para entender o fenômeno evangélico no Brasil, o mesmo espírito do livro "Crentes: Pequeno Manual sobre um Grande Fenômeno", publicado em coautoria com Guilherme Damasceno e Raphael Khalil. Na entrevista, o pesquisador diz que o segmento é muito heterogêneo —e precisa ser visto a partir da sua multiplicidade— e aponta as raízes do forte crescimento das igrejas evangélicas no Brasil nas últimas décadas. Spyer também discute a LGBTfobia e o machismo nas igrejas e fala sobre a dificuldade da esquerda em dialogar com o público evangélico. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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44:31
Arlene Clemesha: Judaísmo vive crise de consciência com genocídio em Gaza
Arlene Clemesha, professora de história árabe da USP, é uma das mais conhecidas vozes críticas à ofensiva militar de Israel em Gaza e, de forma mais geral, ao sionismo, a ideologia política de defesa do Estado judeu no Oriente Médio. Em "Marxismo e Judaísmo: História de uma Relação Difícil", o foco da sua análise, no entanto, é outro: a historiadora se volta a como movimentos marxistas e socialistas lidaram com a questão judaica até as vésperas da Primeira Guerra Mundial, período em que o antissemitismo tinha feições diferentes e o sionismo, menos força. Na entrevista, Clemesha fala sobre as transformações do antissemitismo nos séculos 19 e 20 e defende que a necessária condenação desse tipo de preconceito não deve ser usada para silenciar críticos de Israel. A pesquisadora diz considerar que o país está cometendo um genocídio de palestinos na Faixa de Gaza e explica por que pensa que a solução de um só Estado, que una israelenses e palestinos, pode até ser o caminho mais simples para a paz na região —lembrando que, hoje, qualquer proposta parece completamente irrealizável. Israel nega as acusações de genocídio contra palestinos. Em defesa na Corte Internacional de Justiça, o país declarou que uma guerra trágica está em curso na Faixa de Gaza, não um genocídio, e que acusar Israel desse crime é uma leitura distorcida do direito internacional. Definição de antissemitismo da IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto) Declaração de Jerusalém sobre o Antissemitismo Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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53:27
Sérgio Costa: Esquerda precisa oferecer imagem de mundo melhor
Muito já foi escrito sobre os rumos da política brasileira nas últimas décadas. Encontrar um ângulo original de análise é talvez um dos maiores desafios para quem se dedica a esse campo de pesquisa. Sérgio Costa, professor de sociologia da Universidade Livre de Berlim e codiretor do Mecila, centro de pesquisas sobre convivialidade e desigualdade na América Latina, buscou um caminho tentando analisar, ao mesmo tempo, as mudanças —ou os medos que cercam possíveis mudanças— nas hierarquias sociais e as escolhas eleitorais de pessoas e grupos. No recém-lançado "Desiguais e Divididos: uma Interpretação do Brasil Polarizado", Costa entrelaça as dimensões de gênero, raça, renda e sexualidade para pensar as desigualdades brasileiras e constrói uma narrativa ampla da tumultuada história política recente do país, desde o governo Lula 1. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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47:50
Lenin Bicudo: Por que a homeopatia ainda é popular no Brasil
No Brasil, se consultar com um homeopata ou tomar "bolinhas" de homeopatia para lidar com alguma condição médica não é incomum. Também é comum se deparar com questionamentos sobre a eficácia da homeopatia. Mas o que explica a sobrevivência da prática ao longo de séculos de forte avanço da chamada medicina tradicional —e por que tantos médicos e pacientes se engajam com a homeopatia, apesar de não haver comprovação de que os glóbulos funcionem? Essas questões estão no cerne de "Cultura Homeopática: uma Investigação sobre a Comunicação do Desconhecimento", livro recém-lançado do sociólogo Lenin Bicudo Bárbara. Doutor pela USP, Bicudo discute neste episódio as bases da homeopatia e apresenta os principais marcos da sua história no Brasil, como a aproximação com o espiritismo kardecista, o papel de generais no reconhecimento da homeopatia como especialidade médica e as estratégias usadas para preservar a legitimidade da prática e o mercado de seus profissionais. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Lucas Monteiro See omnystudio.com/listener for privacy information.