Ernesto Rodrigues: Globo foi mais espelho do Brasil que Grande Irmão
Ernesto Rodrigues, que acaba de lançar o primeiro volume de uma trilogia sobre a história da Rede Globo, diz não acreditar em isenção no jornalismo. Para ele, um esforço sincero para apresentar as várias interpretações de um acontecimento é o melhor caminho. O autor afirma ter se guiado por esse princípio ao escrever sobre os quase 60 anos da Globo, a partir, principalmente, dos depoimentos do acervo institucional da emissora. O retrato que surge do primeiro livro, "Hegemonia: 1965-1984", é mais comedido que outros trabalhos sobre a Globo. Rodrigues narra, o imbróglio relacionado ao acordo com o grupo americano Time-Life, o alinhamento de Roberto Marinho com a ditadura militar e a parcialidade em coberturas históricas, como as greves do ABC e o comício na praça da Sé em janeiro de 1984. O jornalista, por outro lado, recusa a ideia de orquestração deliberada para manipular a opinião pública do país. Em sua opinião, a Globo foi, ao longo da sua história, mais espelho do Brasil, tanto na dramaturgia quanto no noticiário, que um Grande Irmão que tentou dominar a mente dos brasileiros. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Lucas Monteiro See omnystudio.com/listener for privacy information.
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47:09
André Roncaglia: Agro e bets transformam Brasil em 'fazendão com cassino'
A desigualdade brasileira tem uma gramática intricada, muitas vezes invisível às pessoas comuns. Esse é o ponto de partida de "Poder e Desigualdade", de Cesar Calejon e André Roncaglia. Roncaglia, professor da UnB e diretor-executivo do Brasil no FMI, debate neste episódio a evolução da economia brasileira nas últimas décadas. O pesquisador também discute as características do que chama de um novo espírito do tempo, marcado por um individualismo que valoriza riscos e se afasta de organizações coletivas. "Poder e Desigualdade" propõe que, com o avanço da agropecuária na estrutura produtiva do país e de bets e coaches na subjetividade dos trabalhadores, o Brasil está se transformando em um "fazendão com cassino". Roncaglia defende que, para ter chances nesse cenário, a esquerda precisa encontrar um novo discurso e passar a dialogar com as aspirações de prosperidade e de recompensa pelo esforço e pelo mérito individual, ainda que desafiando essas ideias. O pesquisador também abordou o papel da sensação de estagnação do poder de compra na vitória de Donald Trump e o que o resultado das eleições tem a dizer sobre a política econômica que Joe Biden implementou em seu mandato. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Lucas Monteiro See omnystudio.com/listener for privacy information.
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49:07
Tiago Rogero: Brancos são o grupo identitário dominante no Brasil
Em 2018, Tiago Rogero ouviu a escritora Conceição Evaristo falar, em uma palestra, que as escolas brasileiras ensinavam a Revolução Farropilha, no Rio Grande do Sul, mas não a Revolta dos Malês, levante de escravizados de Salvador em 1835. O jornalista diz que, depois disso, passou a pensar nas histórias nunca foram contadas ou silenciadas sobre a herança africana do país. Dessa inquietação, surgiu a ideia se debruçar sobre o passado do Brasil a partir das experiências e do protagonismo de pessoas negras. Nasceu assim o projeto Querino, investigação jornalística coordenada por ele que resultou em um podcast narrativo de oito episódios, lançados em 2022. A série em áudio acaba de virar livro pela Fósforo. O espírito da obra é ampliar e aprofundar questões e temas discutidos no podcast, mantendo a estrutura e o tom que centenas de milhares de ouvintes conhecem bem. Rogero, hoje repórter do jornal The Guardian, fala neste episódio sobre os desafios que enfrentou para transpor o áudio para o registro escrito e discute a dificuldade do Brasil de lidar com o passado escravocrata e reconhecer como africanos e seus descendentes forjaram o país. Ele diz que os brancos são o grupo que sempre dominou a pauta identitária brasileira e defende que a luta compartilhada com outros grupos étnico-raciais é essencial para o movimento antirracista hoje. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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44:55
Jessé Souza: Direita e religião souberam manipular a raiva dos pobres
Por que eleitores pobres que votaram em Lula e Dilma em quatro eleições seguidas passaram a dar vitórias à direita? O sociólogo Jessé Souza tenta responder a essa questão em seu mais recente livro, o recém-lançado "O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos" (Civilização Brasileira). Jessé, entrevistado deste episódio, divide essa classe empobrecida de eleitores em dois grupos: o pobre branco de São Paulo e do sul do Brasil e o negro evangélico. Em comum, ambos manifestam repúdio pela esquerda, por políticas de inclusão de grupos marginalizados e por programas como o Bolsa Família. Guardam, entretanto, diferenças significativas, que remetem às desigualdades do país, avalia ele. Na entrevista, Jessé também comenta o segundo turno em São Paulo, diz que o PT deveria aprender com Getúlio Vargas e argumenta que a esquerda em geral afasta eleitores ao dar protagonismo a pautas identitárias. Produção e apresentação: Marco Rodrigo Almeida Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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44:12
Daniel Santini: Direita hoje vê tarifa zero como solução
Quando as manifestações de Junho de 2013 estouraram, era fácil situar politicamente a defesa da gratuidade no transporte coletivo: o movimento estava ligado à esquerda. Dez anos depois, tudo mudou. O número de cidades brasileiras com tarifa zero universal passou de 19 em 2013 para 116 em 2024, e a maioria delas é governada por partidos de direita. Esse cenário é analisado por Daniel Santini no recém-lançado "Sem Catraca: da Utopia à Realidade da Tarifa Zero". Para o autor, a pandemia de Covid-19 escancarou que o transporte coletivo está colapsando no país. Neste episódio, ele afirma que mesmo uma política de gratuidade mal desenhada é melhor que o modelo atual, baseado na receita das catracas, e se contrapõe às críticas que qualificam a tarifa zero como algo irrealizável. Ouça também: Junho de 2013 tornou passe livre um debate possível, diz Roberto Andrés Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.