Totens e tabus: tudo é culpa da cultura?
Este episódio se inscreve na temporada “O sexual na polis”,onde nos perguntamos como o desejo, o amor, o gozo, o conflito e a diferença atravessam a vida coletiva. E hoje, partimos de uma provocação que também dá nome ao episódio: “Totens e tabus: tudo é culpa da cultura?”Há mais de um século, Freud escrevia Totem e Tabu, buscandoentender como a cultura se constitui a partir de pactos, interditos e renúncias. No centro dessa hipótese, está um acontecimento traumático — um crime fundador, um gesto de transgressão que funda não apenas a lei, mas também o mal-estar que acompanha a própria experiência de viver em sociedade.A cultura nasce, portanto, de uma ferida. Uma ferida quejamais cicatriza completamente, porque no coração dos laços sociais pulsa algo que não se domestica: o desejo, a violência, o sexual, a ambivalência entre amor e ódio, entre pertencimento e exclusão.Mas será que os totens e tabus de ontem ainda operam hoje?De que modo os interditos, os pactos, as normas e os fantasmas que sustentam a vida coletiva estão se reorganizando na contemporaneidade? O que hoje não se pode desejar, dizer, viver? E, sobretudo, que novos tabus estão sendo produzidos em nome de ideias de progresso, de liberdade ou de pertencimento?Para nos ajudar a atravessar essas questões, recebemosMichel Alcoforado, antropólogo, comunicador, colunista e apresentador do podcast Tudo é culpa da cultura, e a colega Marina Massi, psicóloga, psicanalista da SBPSP que, assim como nós, investiga as ressonâncias do mal-estar na cultura, os efeitos da norma sobre o desejo e os modos como o sujeito se engendra nesse campo tensionado entre lei, gozo e laço social.