A cama da minha filha fica em cima de tijolos pra fugir das enchentes
Toda vez que começa a chover, Ágata fica em alerta. Ela tem só 6 anos, mas já sabe o que precisa fazer: guardar os brinquedos, levantar os cadernos e separar suas roupas. A água entra rápido na casa onde mora com o pai, Rafael, e eles aprenderam a reagir depressa para tentar salvar o que podem.Rafael mora na Baixada da Sobral, bairro periférico e o mais populoso de Rio Branco, no Acre, em uma área que alaga quase sempre. Atrás da casa dele passa um córrego estreito, que recebe água da chuva e também a água suja liberada pela empresa de abastecimento. O resultado é sempre o mesmo: o córrego transborda, as ruas desaparecem e muitas famílias ficam ilhadas.Ele e a filha já perderam fogão, cama, armário. Hoje, vivem com tijolos empilhados em casa para levantar os móveis quando a água sobe. Mesmo assim, muitas vezes passam horas presos dentro de casa, sem luz, sem internet e sem como sair. Quando a escola de Ágata alaga, ela perde aula. Cansado de ver a situação se repetir, ele começou a usar o humor como forma de protesto e transformar isso em ferramenta de denúncia. Gravou o primeiro vídeo satirizando as enchentes do bairro, o conteúdo viralizou e o tornou uma voz entre os vizinhos.Rafael também organizou manifestações pacíficas para cobrar ações do poder público. Em uma delas, acabou sendo agredido e detido por um policial. No mesmo dia, à noite, o bairro voltou a alagar. Mesmo assim, ele não parou de cobrar.Hoje, Rafael usa as redes sociais para mostrar a realidade das mais de 100 mil pessoas que vivem em seu bairro. Fala sobre os impactos ambientais, o descaso das autoridades e a falta de saneamento. E, no meio de tudo isso, tenta ensinar à filha que vale a pena continuar tentando.A história completa do Rafael e da Ágata você assiste no site historiasdeterapia.com.A história dos dois faz parte da parceria entre o UNICEF e o Histórias de ter.a.pia para alertar sobre os efeitos das mudanças climáticas na vida de crianças e adolescentes no Brasil. As pessoas retratadas não necessariamente são beneficiárias de programas implementados pelo UNICEF ou por parceiros.