Pode um país ser realmente independente sem investir na educação?
No episódio desta semana do podcast Na Terra dos Cacos assinalamos os 50 anos da independência de Angola, que se comemoram este 11 de Novembro. Por isso, o formato é diferente do habitual, só com uma parte preenchida com um resumo do debate promovido pelo PÚBLICO e organizado pelo Instituto Superior Politécnico Sol Nascente, no Huambo. Além do professor Elísio Macamo, os sociólogos David Boio e Paulo Inglês, o especialista em educação Isaac Paxe e a vice-presidente do Instituto Superior Politécnico de Humanidades e Tecnologias – Ekuikui II, Emília Pepeca, discutiram a relação entre educação e soberania. Há quase 50 anos, a 11 de Novembro de 1975, no discurso de declaração da independência de Angola, Agostinho Neto referiu o “propósito inabalável” da República de Angola de “conduzir um combate vigoroso contra o analfabetismo em todo o País, de promover e difundir uma educação livre, enraizada na cultura do Povo angolano.” Passado meio século, a luta contra o analfabetismo continua em Angola. Se em 1975, 85% da população era considerada analfabeta, hoje essa taxa baixou para 24%, como referiu o Presidente João Lourenço no seu discurso sobre o Estado da Nação. No entanto, como referiu o economista Jorge Mauro, apesar da percentagem ter baixado substancialmente, hoje em termos absolutos há mais analfabetos que em 1975, pois com o aumento da população, que passou de 6,8 milhões de habitantes para 36,1 milhões, os 85% de há 50 anos equivaliam a 6,8 milhões de habitantes, enquanto que os 24% de hoje equivalem a 8,6 milhões de angolanos. Em 1957, Kwame Nkrumah, dizia que o progresso do seu país, o Gana, seria avaliado pelo “progresso na melhoria da saúde do nosso povo; pelo número de crianças na escola e pela qualidade da sua educação; pela disponibilidade de água e electricidade nas nossas cidades e aldeias, e pela felicidade que o nosso povo sente ao poder gerir os seus próprios assuntos.” O ano passado, Antero Almeida, representante da UNICEF em Angola, lamentava-se pelo facto de apesar de o orçamento para a educação ter vindo a aumentar, ainda haver um grande número de crianças fora do sistema educativo, as salas de aulas estão sobrelotadas e a qualidade do ensino ressente-se também por causa disso. Quer isto dizer que, pelos critérios de Nkrumah, o progresso de Angola ressente-se por causa dos problemas da educação e que o “propósito inabalável” de Agostinho Neto continua por realizar? Será que um país que não investe na educação perde soberania? No sentido em que o conhecimento, a tecnologia, os cérebros, a inovação, os produtos essenciais ao funcionamento da economia, até os critérios de avaliação têm de ser importados?See omnystudio.com/listener for privacy information.