#36 - Perspectiva para o jornalismo científico
O episódio 36 do SENSU CAST aborda o jornalismo científico na América Latina tendo como convidada a jornalista Luisa Massarani, uma das principais referências da área no continente. Luisa Massarani é um das autoras, ao lado do também brasileiro Luiz Felipe Fernandes Neves e do colombiano Nicolás Bustamante Hernández, do relatório Princípios orientadores para o jornalismo de ciência: uma perspectiva global 2024. Luisa é também coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz, coordenadora para América Latina de SciDev.Net e editora-chefe do Journal of Science Communication – América Latina. A pesquisa, promovida pela World Federation of Science Journalists e aplicada a mais de 500 jornalistas de 82 países, traça um panorama global da prática jornalística voltada à ciência. O estudo mostra que 53% dos respondentes se identificam como mulheres e que 52% possuem formação em jornalismo, mas há uma diversidade crescente de perfis – com destaque para os profissionais que vêm de áreas científicas e ingressam na comunicação por vocação ou necessidade de tradução do conhecimento.Durante a entrevista, Luisa destaca que a ideia do relatório surgiu da demanda por diretrizes mais claras e globais para o jornalismo científico. A consulta, traduzida para seis idiomas e amplamente distribuída, revelou um campo em expansão, ainda que repleto de desafios: remuneração baixa, precarização profissional e a dificuldade de equilibrar precisão científica com acessibilidade ao público.Um dado que chama atenção é o envelhecimento qualificado da categoria: 38% dos entrevistados atuam na área há mais de 16 anos e 55% têm o jornalismo científico como principal ocupação. “Temos diferentes gerações ainda atuando, e isso é positivo. Significa que há renovação e permanência”, comenta Massarani.No recorte latino-americano, os jornalistas mostram-se divididos sobre a possibilidade de neutralidade na cobertura científica — 48% afirmam que o jornalista não pode ser neutro. Para Massarani, a neutralidade é ilusória: “Escolher a pauta, a fonte e o enfoque já é tomar uma posição. O importante é ter responsabilidade e transparência”.Outro ponto central discutido é o lugar do cientista como fonte. Seis em cada dez jornalistas concordam que a fala de um cientista deve ser tratada de forma diferente da de um leigo. Ainda assim, Massarani alerta para o risco de transformar o discurso científico em verdade incontestável. “Precisamos ouvir mais a sociedade e entender como a ciência impacta a vida cotidiana”. As plataformas digitais dominam a atuação dos jornalistas científicos: 70% publicam em portais e sites, enquanto apenas uma minoria veicula seus conteúdos em museus, televisão ou eventos. Para Luisa, essa realidade exige profissionais versáteis e abertos à inovação: “Além de escrever bem, o jornalista precisa dominar formatos multimídia e atuar em diferentes frentes”. O relatório também revela tensões éticas, como o debate sobre a aceitação de viagens ou presentes para cobertura de eventos científicos. A posição dos jornalistas varia conforme a região do mundo, mas Luisa reforça: “A independência editorial deve ser sempre prioridade, independentemente de quem financia o deslocamento”.Por fim, Massarani ressalta a importância das associações e redes de apoio, como a RedeComCiência no Brasil, para fortalecer a categoria e fomentar o intercâmbio entre profissionais. Ela também convida jornalistas e pesquisadores a conhecerem e contribuírem com o Journal of Science Communication – América Latina, periódico que busca conectar ciência, prática jornalística e sociedade.Ouça e aproveite para compartilhar a suaopinião e sugerir temas para os próximos episódios do SENSU CAST. FICHA TÉCNICAProdução: SENSU Consultoria de Comunicação e Banca de ConteúdoRoteiro e apresentação: Moura Leite NettoEdição: J.BenêDireção: Luciana Oncken