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Freud Que Eu Te Escuto

Alexandre Spinelli Ferreira
Freud Que Eu Te Escuto
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  • Sobre a Psicogênese de um Caso de Homossexualidade Feminina (1920) - IV
    Chegamos à quarta e última parte do artigo Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina, publicado por Freud em 1920. Neste encerramento, Freud retoma os elementos centrais da análise e se arrisca em reflexões mais amplas sobre os limites da etiologia psíquica, as formas de classificação da homossexualidade e a relação entre herança, aquisição e bissexualidade originária.O que parecia, no início, um caso de homossexualidade adquirida após uma frustração edípica, revela-se mais complexo à medida que a análise se aprofunda. A jovem já manifestava tendências homossexuais desde cedo, e sua libido sempre correu em duas correntes, uma delas, fortemente identificada à figura materna e à posição masculina.“Durante alguns anos na escola, foi apaixonada por uma professora severa e pouco acessível, óbvio substituto da mãe. [...] Desde muito cedo, a sua libido fluiu em duas correntes, e delas a mais superficial pode ser facilmente homossexual.”Freud adverte que não se deve atribuir valor excessivo às classificações simplificadas. A experiência clínica mostra que características físicas, psíquicas e de escolha de objeto podem coexistir em configurações múltiplas, desconectadas da rigidez binária tradicional.“Uma alma feminina destinada a amar os homens que infelizmente está no corpo de um homem, ou uma alma masculina atraída pelas mulheres, mas aprisionada no corpo feminino – isso é uma ilusão simplificadora. [...] Lidamos com três séries de características [...] que nos diferentes indivíduos se acham em permutações variáveis.”Em vez de reduzir o fenômeno à ideia de um “terceiro sexo” ou à fantasia de um corpo errado, Freud propõe que todos carregamos graus variáveis de bissexualidade latente, com predominâncias contingentes e dinâmicas. E se a psicanálise não resolve a homossexualidade, ao menos ilumina os caminhos inconscientes que conduzem à escolha amorosa, seja ela qual for.Neste episódio, também se discutem os limites da análise na transformação de estruturas libidinais fixadas, especialmente quando comparadas a intervenções biológicas, como as experimentações de Steinach. Freud é claro:“A psicanálise não pode esclarecer a essência do que é chamado masculino ou feminino. [...] Ela adota os dois conceitos e os toma por base de seus trabalhos. Se procura examiná-los mais, a masculinidade se dissolve em atividade e a feminilidade em passividade – o que é pouco.”O episódio fecha este ciclo de leitura com a mesma honestidade crítica com que começou: sem promessas fáceis, mas com um mergulho profundo nas camadas do desejo, da identidade e da resistência. Freud não nos entrega uma resposta, mas nos ensina a escutar, inclusive o que o sujeito não sabe que sente, ou não pode ainda nomear.A leitura segue baseada na edição da Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Sousa.📚 Para adquirir o livro onde este artigo se encontra: https://amzn.to/3GRsxpZ📱 Para adquirir o eBook: https://amzn.to/4oaHswvSe você ouviu os quatro episódios, parabéns: acompanhou um dos textos mais ousados e provocadores de Freud. Se gostou, compartilhe, siga o podcast e avalie com carinho. E se quiser mais leituras psicanalíticas, conheça também o Suficientemente Winnicott, os links estão na descrição.Até o próximo episódio.
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    13:12
  • Sobre a Psicogênese de um Caso de Homossexualidade Feminina (1920) - III
    Neste episódio, seguimos com a terceira parte da leitura do artigo Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina (1920), no qual Freud se aprofunda nos mecanismos inconscientes que organizam o desejo da jovem analisada e, com isso, ilumina a complexidade da sexualidade humana em geral.Aqui, Freud descreve o estilo amoroso da paciente: apaixonada, contida, reverente, assumindo a posição masculina de adoração idealizada. Sua relação com a amada é atravessada por fantasia, recuo sensual e devoção sem exigência. Mesmo diante da má reputação da mulher que ama, a jovem insiste, como se fosse justamente esse traço que conferisse dignidade ao gesto de amá-la.“A moça adotou o tipo masculino de amor. Sua humildade e sua terno despretenção, que pouco espera e nada pede. A felicidade, quando lhe era permitido acompanhar um pouco a dama, beijar-lhe a mão de despedida.”Freud observa que esse amor exaltado ecoa uma configuração edípica precoce e frustrada: o desejo pelo pai, a rivalidade com a mãe, o sonho de ter um filho que é negado simbolicamente quando a mãe engravida novamente. A tentativa de suicídio da jovem, longe de ser mero desespero, é lida como expressão simbólica de múltiplas forças psíquicas: desejo, culpa, autopunição, vingança.“Talvez ninguém encontre a energia psíquica para se matar, se primeiro não estiver matando também um objeto com o qual se identificou.”Nesta parte, Freud introduz o que chama de “sonhos mentirosos”: formações oníricas que, apesar de parecerem otimistas, surgem com a função inconsciente de enganar o analista — e, assim, proteger a posição subjetiva da paciente. Ao identificar esses sonhos como produto da mesma estrutura que a fazia enganar o pai, Freud conecta a transferência ao cerne do conflito:“As duas intenções, enganar o pai e agradar ao pai, vêm do mesmo complexo.”O episódio também toca na resistência analítica: a paciente colabora, fala, entende, mas não se transforma. A resistência não grita, mas silencia e segura. Freud reconhece o limite do processo e sugere, com elegância e precisão, que talvez uma analista mulher pudesse abrir novas vias de elaboração.Além disso, o texto oferece uma das passagens mais poéticas e profundamente humanas de toda a obra freudiana — quando ele se curva, admirado, diante do fato de que muitas vezes não sabemos o que sentimos, ou só descobrimos tardiamente o quanto algo nos afetou:“Vemo-nos assim obrigados a dar razão aos poetas que gostam de nos retratar pessoas que amam sem o saber, ou que não sabem se amam, ou que acreditam odiar e na realidade amam.”A leitura segue baseada na edição da Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Souza. Se você ainda não ouviu os episódios anteriores, eles estão disponíveis no feed.📚 Para adquirir o livro onde este artigo se encontra: https://amzn.to/3GRsxpZ📱 Para adquirir o eBook: https://amzn.to/4oaHswvSe esse conteúdo te toca, compartilhe. Se puder, apoie o projeto. E se quiser mais leituras como essa, conheça também o podcast Suficientemente Winnicott — os links estão na descrição. Até o próximo episódio.
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    17:21
  • Sobre a Psicogênese de um Caso de Homossexualidade Feminina (1920) - II
    Dando sequência à leitura do artigo Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina (1920), Freud nos conduz, nesta segunda parte, à trajetória libidinal da jovem analisada, reconstruindo os caminhos psíquicos que a levaram de um desejo materno intenso a uma escolha amorosa que desafiava as convenções de sua época e os nervos de seus pais.A análise revela um enredo denso de afetos, rivalidades e reorganizações do desejo. O nascimento de um irmão mais novo, quando a paciente tinha 16 anos, marca um ponto de inflexão: ela queria um filho, queria o pai como parceiro simbólico, mas viu a mãe, sua rival inconsciente, dar à luz esse filho em seu lugar. A frustração se transforma em revolta, e o desejo toma outra direção. Como escreve Freud:“Revoltada e amargurada, voltou as costas ao pai, aos homens em geral. Após esse primeiro grande malogro, ela rejeitou sua feminilidade e pôs-se a buscar uma outra colocação para sua libido.”Em vez de desejar ser amada por um homem, ela se torna o homem — no plano psíquico — e escolhe, como objeto de amor, uma figura feminina que reunia traços da mãe e do irmão: “bela, austera, rude e idealizada”. A escolha amorosa é, assim, ao mesmo tempo um gesto de compensação, vingança e reorganização simbólica.Freud reconhece que a análise não avançou profundamente, mas ainda assim delineia hipóteses complexas, sem reduzir o tema a uma moralização. Há, novamente, o cuidado em não tratar a homossexualidade como um desvio ético, mas como uma forma legítima de configuração psíquica. Ao analisar a dinâmica familiar, ele escreve:“Ela converteu-se em homem e tomou a mãe — em vez do pai — como objeto de amor. [...] Tornando-se homossexual, deixando para a mãe os homens, pondo-se de lado por assim dizer, a garota tirava do caminho algo que até então fora parcialmente responsável pelo desfavor da mãe.”Esse episódio também aprofunda conceitos fundamentais da teoria freudiana, como o Complexo de Édipo, a bissexualidade originária, o recalque, a identificação, a formação dos sintomas e a importância das frustrações precoces. Freud mostra como o inconsciente encontra vias inesperadas para expressar afetos interditos e reviver conflitos mal resolvidos da infância.Nesta segunda parte, a escuta de Freud segue firme e surpreendentemente lúcida, mesmo diante das limitações de sua época. A leitura é baseada na edição da Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Sousa.Se você ainda não ouviu a Parte 1, ela está no feed. E se quiser acompanhar as próximas, não esqueça de seguir o podcast.Aproveite para conhecer também meu outro projeto, Suficientemente Winnicott, com leituras e reflexões a partir da obra de Donald Winnicott. Os links estão na descrição.📚 Para adquirir o livro onde este artigo se encontra: ⁠https://amzn.to/3GRsxpZ⁠📱 Para adquirir o eBook: ⁠https://amzn.to/4oaHswv⁠Compartilhe este episódio com quem se interessa por psicanálise, sexualidade, relações familiares e pela complexidade do desejo humano. Freud pode ter escrito em 1920, mas o que ele provoca ainda reverbera com força em 2025.
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    11:47
  • Sobre a Psicogênese de um Caso de Homossexualidade Feminina (1920) - I
    Neste episódio do Freud que eu te escuto, você ouve a primeira parte do artigo Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina, publicado por Freud em 1920. O texto narra e analisa, com notável rigor clínico, o caso de uma jovem de 18 anos que desenvolve uma paixão intensa por uma mulher mais velha, gerando conflito familiar, tentativa de suicídio e, posteriormente, a busca por tratamento psicanalítico.O artigo é um dos mais delicados e controversos de Freud. Lido hoje, mais de um século depois, seus trechos podem soar como impregnados de preconceito. No entanto, é preciso contextualizá-lo com cuidado: embora use termos e expressões da época (alguns dos quais hoje seriam inaceitáveis), Freud caminha, em muitos momentos, na contramão do moralismo e da intolerância que marcavam sua sociedade.Longe de tratar a homossexualidade como algo a ser punido ou corrigido a qualquer custo, Freud mostra-se cético diante da pretensão dos pais em “curar” a filha. Ele reconhece que seu papel não é atender ao desejo normativo da família, mas entender a verdade psíquica da jovem.Como ele mesmo escreve, com ironia e lucidez:“Sucede também que um casal de pais queira curar o filho nervoso e desobediente, esperando que o médico lhes devolva um problema, mas que possa lhes dar alegria. O médico talvez obtenha a cura desse filho, mas, após o restabelecimento, ele toma seu próprio caminho com a maior decisão – e os pais ficam mais insatisfeitos do que antes.”Freud também questiona a eficácia de tratamentos voltados à mudança da orientação sexual e deixa claro que essa não é uma tarefa simples, nem sempre desejável, tampouco eticamente justificável:“Esse trabalho — eliminar a inversão genital ou homossexualidade — nunca me pareceu fácil. Constatei, isso sim, que apenas em circunstâncias muito favoráveis ele é bem-sucedido. E, mesmo então, o êxito consistiu essencialmente em liberar à pessoa restrita à homossexualidade o caminho obstruído até então para o sexo oposto. Ou seja, restaurar sua plena função bissexual.”Freud não propõe uma “cura” para a homossexualidade, mas sim a abertura de caminhos internos para que o sujeito possa lidar com suas escolhas afetivas e sexuais com maior liberdade e consciência, ainda que essas escolhas não coincidam com as expectativas familiares ou sociais.Neste episódio, convido você a escutar a leitura dessa primeira parte do artigo com ouvidos atentos e críticos, lembrando que o texto reflete não só os limites do tempo em que foi escrito, mas também avanços importantes em direção a uma compreensão mais complexa da sexualidade humana.A leitura é baseada na edição da Companhia das Letras, tradução de Paulo César de Souza. Nos próximos episódios, seguiremos com as demais partes do artigo, mergulhando mais profundamente na análise do caso.📚 Para adquirir o livro onde este artigo se encontra: ⁠https://amzn.to/3GRsxpZ⁠📱 Para adquirir o eBook: ⁠https://amzn.to/4oaHswv⁠Se você curte esse tipo de leitura, talvez goste também do Suficientemente Winnicott, meu outro podcast com textos e ideias do psicanalista Donald Winnicott. Apoie, compartilhe, envie para quem se interessa por Freud, por psicanálise ou por refletir com profundidade sobre temas que seguem atuais. E que essa escuta, mais do que buscar respostas prontas, nos ajude a pensar melhor juntos.
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    20:03
  • Contribuições à História do Movimento Psicanalítico - III
    Neste episódio, leio a terceira e última parte do artigo em que Freud analisa o surgimento e os primeiros conflitos do movimento psicanalítico. Aqui, ele traça fronteiras entre sua teoria e as ideias de Adler e Jung, defendendo o papel central da sexualidade e do inconsciente no funcionamento psíquico.Você vai entender:Por que Freud rompeu com seus antigos colaboradoresO que está em jogo na disputa entre pulsão sexual e "forças do ego"Como o inconsciente freudiano se distingue de outras abordagens psicológicasUma leitura fundamental para quem deseja compreender a essência da psicanálise, suas rupturas e sua ética.Se você é estudante, analista, curioso ou apenas quer pensar mais fundo sobre o ser humano, este episódio é pra você.Esse artigo se encontra no volume 11 das Obras Completas de Freud da Companhia das Letras, na tradução de Paulo César de Souza.
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    57:31

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Sobre Freud Que Eu Te Escuto

Descubra a obra e a vida de Freud de forma acessível! No nosso podcast, você encontrará leituras cuidadosas de artigos, cartas e outros textos de Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise. Cada episódio é uma oportunidade para aprofundar seu conhecimento sobre psicanálise e explorar os pensamentos e teorias que revolucionaram a compreensão da mente humana. Utilizamos as traduções de Paulo César de Souza, publicadas pela Cia das Letras. Se você está gostando do nosso podcast e quer nos ajudar a continuar, que tal se tornar um assinante?
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