24 - IPCA: A inflação que o governo vê não é a que você sente
Muitas vezes, abrimos o jornal e lemos que a inflação oficial (medida pelo IPCA) está em torno de 5%. Contudo, a nossa experiência pessoal pode ser dramaticamente diferente: a conta da escola subiu 20%, o condomínio 30%, e a renda nem de longe acompanhou esses reajustes (a Professora FIRE é quem o diga). Essa discrepância exige que entendamos o que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mede – e o que ele deixa de medir – e, mais importante, como construir nosso próprio barômetro de inflação pessoal para proteger o poder de compra.O IPCA é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e serve como principal referência para as metas de inflação e ajustes contratuais. Ele mede a variação média dos preços de bens e serviços consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários-mínimos, em 13 regiões metropolitanas. O cálculo se baseia na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que define uma "cesta" de itens e seus pesos relativos. Por exemplo, alimentação e bebidas podem representar cerca de 20% do total de gastos da família média, enquanto habitação representa 15-16%. Essa estrutura de pesos é fundamental, pois variações em grupos com peso muito pequeno – mesmo que altas, como 30% – terão um impacto modesto no índice geral do IPCA.É exatamente nesses "pesos" que reside o "gap" entre a inflação oficial e a inflação vivida. Mesmo calculado com rigor, o IPCA pode divergir da sua realidade porque a cesta oficial é uma média. Sua família pode gastar muito mais em educação, serviços ou moradia do que o perfil médio captado pelo IBGE. Custos específicos que impactam você, como certas taxas de manutenção ou condomínio, podem ter um peso quase inexistente no IPCA. Assim, não é raro que o índice do IBGE mostre +5%, enquanto o seu orçamento pessoal está sendo corroído por uma inflação percebida de +12% a +20%. Para quem investe, especialmente em renda fixa, a meta deve ser superar sua inflação pessoal, e não apenas a oficial, para evitar "ganhar em números" e "perder em poder de compra".Para brincar de "economista amador" e montar sua própria régua, o primeiro passo é listar e identificar os principais grupos de despesas que mais impactam você, como Moradia, Educação, Alimentação e Transporte. Em seguida, atribua pesos relativos, estimando a proporção de cada categoria no seu gasto mensal total (a soma deve ser 100%). O terceiro passo envolve medir a variação de cada categoria, comparando, por exemplo, o gasto deste ano com o gasto do ano anterior (exemplo: Educação subiu +20%).Complicado né? Não se preocupe, nós do AA40 não íamos deixar você na mão e montamos uma calculadora que vai ajudar você a estimar o seu próprio Índice de Inflação Pessoal. Basta ajustar o percentual de cada grupo abaixo para o percentual que está no seu orçamento (se tiver o realizado percentual por categoria dos últimos 12 meses, será mais real):Clique no link:https://aposenteaos40.org/estime-o-seu-indice-ipca-pessoalSe o resultado for, digamos, +7% ao ano, essa é a referência crucial para seus investimentos. Se seus ativos renderam apenas 9% bruto e sua inflação pessoal é 7%, você está batendo a inflação em ~2%. Já se está rendendo menos que 7% aa, você está perdendo poder de compra.Portanto, a meta é clara: seus ativos precisam render além da sua inflação pessoal. Isso pode exigir o ajuste da estratégia de alocação, buscando mais indexados à inflação ou ativos reais que reajustam mais rápido como renda variável e FIIs. O IPCA é uma ferramenta poderosa, mas construir seu índice pessoal é sobrevivência real no mundo da inflação invisível.